Os cientistas estimam que já lá vão mais de 4.5 mil milhões de anos desde a formação da Terra. Nos primórdios do nosso planeta, com uma atmosfera rica em dióxido de carbono, as suas águas, ricas em carbonato, ficavam salgadas e alcalinas após o fenómeno da evaporação. Uma vez dissolvido na água, o dióxido de carbono originava a “fuga” de um químico especial, vindo das rochas submersas – o fósforo, que assim ficava livre para criar vida. As mais recentes descobertas indicam que este químico desempenhou um papel indispensável na origem da vida humana – e pode explicar o porquê de não existir vida fora do nosso planeta.
O fósforo, designado pela letra “P” na tabela periódica, é um dos seis elementos dos quais a nossa biologia depende – os outros cinco são o carbono, o hidrogénio, o nitrogénio, o oxigénio e o enxofre. As células do nosso corpo usam fósforo nas suas membranas, mas este elemento também está presenta no nosso próprio ADN. Desde biomoléculas a gorduras, fosfoproteínas ou até dentes, o fósforo é parte essencial da fundação dos organismos vivos. Até aos dias de hoje, o nosso corpo continua a adquirir fósforo a partir de plantas ou através do consumo de animais que as consomem. Também é um ingrediente importante para fertilizantes – apesar de os métodos modernos de agricultura originaram a deterioração das reservas naturais de fósforo do planeta.
Uma questão de sorte
Apesar de toda esta importância, o fósforo é o mais raro dos seis elementos essenciais à vida. É apenas o 17º elemento mais abundante no Sistema Solar e só pode ser encontrado em 0.09% da crosta da Terra. Ao todo, estima-se que apenas 0.0007% da matéria do universo é composta por fósforo – um número residual. A criação deste elemento é associada ao tempo de vida de estrelas, em particular aos fenómenos de supernovas, responsáveis pelo nascimento de novas estrelas. Nestes acontecimentos, é originado gás de fósforo que fica preso entre rochas interestelares. Ao longo dos anos ,estes pedaços de rochas, gelo e outros resíduos juntam-se e originam mundos inteiros – novos planetas, inundados de fósforo na sua crosta.
No entanto, os cientistas ainda não foram capazes de calcular a quantidade exata de fósforo originada por uma supernova. Ao comparar duas nébulas separadas – a “Cassiopeia A” e a “Nebulosa do Caranguejo”, foi concluído que os níveis de fósforo variavam nos seus corpos de poeira cósmica. Esta descoberta veio contradizer os modelos de computador existentes até agora, que indicavam que a quantidade de fósforo nas duas nébulas devia ser semelhante.
Assim, esta descoberta significa que a emergência de vida extraterrestre pode depender, em grande medida, de pura sorte. O planeta em questão não só tem de estar na localização certa no seu sistema e na sua galáxia, como também tem de ser originado no tipo certo de estrela – o tipo de sorte que o Plante Terra teve, mas que dificilmente pode vir a repetir-se.
As questões que ficam por responder
Perante este cenário de “pura sorte”, uma série de questões continua sem resposta: o que acontece quando um dos elementos essenciais à criação de vida é uma raridade no universo? Será que outras formas de vida podem encontrar uma substituição para o fósforo no seu ADN?
Os astrónomos percecionam o fósforo como uma condição necessária para a existência de vida. Foi por isso que, em setembro, se levantou a hipótese de existir ou ter existido vida extraterrestre em Vénus, quando um grupo de cientistas descobriu concentrações significativas de fosfina, hidreto de fósforo, no planeta. No entanto, uma segunda examinação, em outubro, veio a concluir que estas concentrações não eram tao significantes como os cientistas pensavam e que se podia tratar de um erro na análise de dados, reduzindo as hipóteses de Vénus acolher organismos vivos. Assim, para azar de quem esperava contactar com extraterrestres, os cientistas voltaram à estaca zero.
Esta aparente raridade do fósforo vem sustentar a “hipótese da Terra rara” – uma teoria científica que defende que não há uma abundância de vida extraterrestre no universo, uma vez que a vida na Terra resulta de vários fatores complexos conjugados entre si. Por essa razão, as condições que originaram a vida são extremamente difíceis de replicar – quase milagrosas, na verdade. Resta concluir que cada um de nós, enquanto ser-humano, é um autêntico milagre andante.