As certezas de setembro transformaram-se em dúvidas em janeiro. O canadiano Dick Pound, o membro mais antigo do Comité Olímpico Internacional (COI), eleito em 1978, diz não estar certo da realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, adiados para o próximo verão. “Não posso ter a certeza por causa do elefante na sala que são os surtos do vírus”, comentou, em declarações à BBC, depois de ter sido declarado o estado de emergência em Tóquio, nesta quinta-feira, 7.
O país organizador dos Jogos enfrenta uma terceira vaga da pandemia e ainda não começou a vacinar a população, o que só deverá acontecer no final do mês de fevereiro. A vacina da Moderna, por exemplo, terá ainda se passar por mais testes locais e não deverá começar a ser administrada antes de maio, na melhor das hipóteses. O Japão é dos países mais céticos em relação à vacinação. Um estudo recente da IPSOS, realizado para o Fórum Económico Mundial, concluiu que apenas 60% dos japoneses desejam ser vacinados, contra 80% dos chineses, 77% dos britânicos ou 69% dos norte-americanos.
É bastante improvável que o Japão consiga ter boa parte da população vacinada até ao início dos Jogos Olímpicos, cuja cerimónia de abertura está agendada para o dia 23 de julho. Na opinião de Dick Pound, seria importante que pelo menos todos os atletas participantes chegassem a Tóquio já vacinados contra o novo coronavírus, apesar de não haver essa exigência por parte do comité organizador. À Sky News, sustentou: “É uma decisão que cabe a cada país e haverá quem diga que eles estão a furar a fila, mas penso que é solução mais realista para os Jogos avançarem.” No Canadá, acredita, não haverá contestação se os “300 ou 400” atletas qualificados foram vacinados previamente.
As dúvidas agora levantadas por Pound, que também dirigiu a Agência Mundial Antidoping (1999-2007) depois de ter sido vice-presidente do COI nos anos 90, surgem três meses depois de John Coates ter garantido a realização dos Jogos Olímpicos, “com ou sem covid-19”. O australiano é atual vice-presidente da Comissão Executiva do COI e esta sua declaração, em setembro, foi como que um ponto final na especulação. As dúvidas em cima da mesa, e que continuam em avaliação, passavam por definir se a competição se realizaria com ou sem adeptos, apenas japoneses ou também estrangeiros. Entretanto, foram já anunciadas restrições de permanência para os atletas na aldeia olímpica, mas Pound é a primeira voz oficial a pôr em xeque a realização dos Jogos após a declaração convicta de John Coates.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, decretou o estado de emergência em Tóquio, durante um mês, para responder à escalada de novas infeções diários. No entanto, o presidente do comité organizador dos Jogos Olímpicos, Yoshiro Mori, apressou-se a garantir que sua a realização não estava posta em causa. Um estudo de opinião realizado ainda antes das novas medidas de restrição indicava que 63% da população preferia o cancelamento ou um novo adiamento dos Jogos, receando um aumento descontrolado da pandemia. Mas desde abril do ano passado que o COI e os organizadores japoneses concordaram que um segundo adiamento está fora de hipótese. Os Jogos de Tóquio ou se realizaram este ano ou já não vão acontecer.