Enquanto dava assistência a soldados americanos na segunda guerra mundial, o médico Henry Beecher ficou sem morfina, um medicamento essencial para atenuar as dores dos combatentes. Decidiu improvisar: substituiu a morfina por uma solução à base de sal, mas continuou a dizer aos soldados que lhes estava a dar o analgésico. Para sua surpresa, quase metade dos soldados afirmou que sentia menos dores depois de lhes ser administrada a solução à base de sal. Estava verificado o efeito placebo.
O efeito placebo – quando o nosso cérebro é levado a crer que algo funciona, apesar de na realidade não fazer qualquer diferença – não se verifica apenas em circunstâncias médicas. Desde os botões das passadeiras ou dos elevadores, aos termóstatos ou barras de download, estamos rodeados de “botões placebo” no nosso dia a dia. E continuamos a crer que carregar e confiar neles faz algum tipo de diferença – mas não faz. Vejamos alguns exemplos destes botões:
Botões dos elevadores
A maioria dos botões de “fechar as portas” dos elevadores está desativada desde os anos 90, em particular naqueles que são produzidos nos EUA. Nesta década, foi aprovado pelo Congresso norte-americano o Disabilities Act, uma lei que estipula que as portas dos elevadores devem manter-se abertas “pelo menos três segundos”, de forma a salvaguardar os interesses de pessoas com deficiências motoras. Assim, vários produtores de elevadores decidiram simplesmente desativar o botão de fechar as portas – este tornou-se num mero botão placebo, que induz as pessoas a pensarem que a porta do elevador se vai fechar mais rápido.
Botões das passadeiras
Em 2014, uma porta voz do Departamento dos Transportes de Nova Iorque afirmou que apenas 9% dos botões das passadeiras da cidade norte-americana estavam a funcionar. Graças aos avanços tecnológicos que permitiram a criação de algoritmos de controlo de padrões nas passadeiras, estes botões foram progressivamente perdendo a sua utilidade. Segundo o New York Times, hoje em dia estes botões apenas existem como mecanismos de placebo – qualquer beneficio retirado deles é pura imaginação.
Termóstatos
Em 2003, o Wall Street Journal afirmou que muitos dos termóstatos dos escritórios eram falsos, estimando que 90% dos medidores de temperaturas serviam apenas para dar uma falsa sensação de conforto aos trabalhadores. Um inquérito realizado mesmo nesse ano veio confirmar esta tendência: 72% dos inquiridos admitiu ter instalado um termóstato falso, de forma a manter os ânimos calmos (e a uma temperatura amena) nas suas empresas. Graças a este efeito placebo, eram evitadas discussões sobre a temperatura ambiente entre os trabalhadores.
A barra de progresso dos downloads
Quando decidimos instalar um programa no nosso computador, ou uma aplicação no telemóvel, deparamo-nos com uma barra de progresso do seu download – tipicamente, trata-se de uma barra que se vai preenchendo, indicando a percentagem descarregada até ao momento. No entanto, esta barra costuma ser imprecisa: o seu propósito é transmitir uma sensação de progresso, e não dispor corretamente o estado do download. Um dos inventores desta barra contou ao New York Times que, nos primeiros testes que fizeram, as pessoas “não se importavam com a imprecisão. Preferiam que houvesse uma barra a não haver nada.”
Porque é que usamos estes botões?
Carregar no botão dos elevadores ou das passadeiras não costuma ter qualquer tipo de influência na rapidez com que as portas se fecham ou no tempo de espera até que o sinal para os peões fique verde. Mesmo quando sabemos que carregar nos botões não faz nada, fazemo-lo à mesma – como quando carregamos no botão para chamar o elevador, apesar de este já estar aceso. Então, porque é que o fazemos de qualquer forma?
Ao ligarmos as ações com o que parece ser o resultado – o sinal acende-se ou as portas do elevador fecham-se depois de carregarmos no botão – o nosso cérebro cria uma associação entre o comportamento e o desfecho, mesmo que não haja qualquer relação entre os dois. Ficamos programados para sentir alívio no momento em que carregamos no botão. O nosso desconforto é aliviado por uma ação que nos faz sentir que temos controlo sobre a situação – é a chamada “ilusão de controlo”, explica Nir Eyal no Psychology Today.
Assim, os botões placebo têm um efeito positivo na nossa vida. Apesar de serem inúteis para alterar o que quer que seja, reduzem o nosso nível de stress e dão-nos uma sensação de controlo ao realizar uma ação que não exige um grande esforço. E, para além de servirem este propósito psicológico, podemos sempre sorrir para nós próprios da próxima vez que virmos alguém apressado a carregar no botão da passadeira por achar que vai passar para o outro lado mais rápido.