A Microsoft está a ser criticada por utilizar uma ferramenta que permite aos chefes controlar a atividade dos empregados. Para a empresa é uma questão de produtividade, mas para alguns trabalhadores é invasão de privacidade
O que ao início poderia parecer uma ‘ideia de um milhão de euros’, acabou por custar caro à Microsoft. Uma opção que permite aos chefes monitorizar a atividade individual dos funcionários e estabelecer um ‘score’ de produtividade está a gerar ondas de indignação nas redes sociais.
Na origem da polémica está a possibilidade de usar o Microsoft 365 para descobrir quem menos participa nas conversas de grupo, aqueles que colaboram menos em documentos partilhados e os que enviam poucos emails.
“Isto é tão problemático a tantos níveis” desabafou o investigador austríaco Wolfie Christl que fez soar os alarmes para esta ferramenta, lançada em 2019, com o objetivo de “dar visibilidade ao modo de funcionamento de uma organização”.
“Os empregadores exploram cada vez mais os metadados registados por software e dispositivos para analisar o nível de desempenho e controlo algorítmico”, acrescentou Christl.
Em resposta, um representante da Microsoft disse: “O ‘score’ de produtividade é uma experiência voluntária que permite aos administradores de sistemas perceber como são usadas infraestruturas e tecnologia. Estas perspetivas destinam-se a ajudar as organizações a tirar o máximo partido dos seus investimentos em tecnologia, abordando pontos de fraqueza comuns, como arranques demorados em dispositivos, colaboração ineficiente de documentos ou fraca conectividade à rede. As informações são apresentadas durante um período de 28 dias e são fornecidas ao nível de cada utilizador para que um administrador de TI possa prestar apoio técnico e orientação”.
“Estamos empenhados em colocar a privacidade como um elemento fundamental do ‘score’ de produtividade”, escreveu no site oficial Jared Spataro, o vice-presidente corporativo da Microsoft 365.
”Deixem-me ser claro: o ‘score’ de produtividade não é uma ferramenta de monitorização de trabalho. O ‘score’ de produtividade consiste em descobrir novas formas de trabalho, promover os níveis de colaboração e as experiências tecnológicas… “ assegurou Jared, recordando que os dados recolhidos são agregados durante um período limitado de 28 dias.
Apesar dos esforços, a resposta da empresa não tranquilizou todos os críticos da funcionalidade.
“A palavra distópica não é suficientemente forte para descrever o novo buraco infernal que a Microsoft acabou de abrir”, escreveu David Heinemeier Hansson, cofundador do escritório de produtividade Basecamp.
“Estar sob vigilância constante no local de trabalho é abuso psicológico. “Ter de se preocupar com estatísticas [de performance] é a última coisa que precisamos de infligir a alguém neste momento” acrescentou Hansson.
Com o aumento substancial do trabalho remoto durante a pandemia de Covid-19, a procura por soluções que permitam monitorizar os índices de produtividade dos trabalhadores tem vindo a aumentar, assim como as dúvidas quanto a questões de invasão de privacidade.