Ultrapassado o pico da segunda vaga, entre 18 e 21 de novembro, com uma média de 6 200 novos casos diários, daí em diante os valores de transmissibilidade do vírus estão a descer ligeiramente, mas falta o tempo certo para “medir a velocidade da descida”. “O valor vai descer à velocidade condicionada pela forma como nos comportamos”, alerta Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e membro da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid. “Se mantivéssemos um decréscimo de menos 2% de casos por dia levaríamos 34 dias a chegar a metade da média, cerca de três mil casos”, exemplifica. Se descer menos 2,5% por dia de novos casos levaria 27 dias e , no melhor dos cenários, se baixasse menos 7% demoraria dez dias. Por isso, Manuel Carmo Gomes diz: “Os cenários são os que nós quisermos, pois não sabemos com que velocidade vão descer os números de novos casos. É arbitrário.”
Nunca é demais relembrar a importância de continuar a lavar as mãos, limpar as superfícies em que as mãos tocam, manter o distanciamento social para que o distanciamento físico seja real, afastar jovens de idosos, usar máscara para evitar o contágio por aerossol e evitar espaços fechados, não arejados e sem ventilação.
“É preciso manter esta auto-disciplina até ao Natal, não esquecendo que o País é muito heterogéneo”, lembra o epidemiologista. As diferenças entre quem trabalha na cintura industrial mais a Norte vs. o teletrabalho, o interior rural e menos povoado vs. o litoral urbano e populoso não podem ser esquecidas.
O impacto do Estado de Emergência renovado pelo menos até 9 de dezembro – e com os dois próximos fins de semana e feriados com medidas de confinamento mais apertadas – só se verá o resultado daqui a duas semanas. “Notámos que o pico desta segunda vaga chegou mais cedo do que o previsto muito por causa das medidas impostas pelo Governo que aceleraram e consolidaram a descida. Se queremos ver vivos os nossos entes queridos mais velhos no Natal de 2021 temos de continuar a cumprir o confinamento”, salienta Manuel Carmo Gomes.
A dificuldade em reduzir os novos casos para metade pode ser exemplificada com o que aconteceu na primavera. “Chegámos ao fim de março com uma média de 870 casos e levámos um mês, até 29 de abril, para alcançar os 400 casos, a descer menos 2,5% por dia, em média”, descreve o especialista. Nessa altura o País estava totalmente fechado, agora temos de conseguir fazer o mesmo vivendo com mais liberdade, mas também mais conhecimento sobre o comportamento do coronavírus. Com mais de 280 mil casos detetados em Portugal, dos quais mais de 82 mil continuam ativos, mais de 500 doentes internados e mais de quatro mil mortes, será que conseguimos?