Naquele sábado, 10 de outubro, o gestor Emanuel Bragança deitou-se cedo. Mas logo pelas 23 e 30 seria acordado por uma gritaria que ecoava da rua, no bairro de Santo António, na Amoreira, Alcabideche (Cascais). Espreitou pela janela e viu um aglomerado de mais de uma dezena de jovens, notoriamente bêbados, aos gritos e empurrões. Não lhe foi difícil deduzir que tinham saído de um jantar bem regado a álcool num restaurante local.
“Foi com absoluta indiferença que lidaram com os elementos das forças de segurança, a ponto de os tratar por ‘tu’”, conta uma testemunha à VISÃO
Mas o que o preocupou foi ver um dos jovens, que segurava uma matrícula de um automóvel atrás das costas, a deslocar-se para o parque canino, a 150 metros dali. O equipamento, construído pela Câmara de Cascais, está aberto há menos de dois meses e resultou de um projeto no valor de 150 mil euros aprovado por voto popular no âmbito do programa de orçamento participativo promovido pela autarquia.
Emanuel Bragança, após alertar a GNR de Alcabideche, desceu à rua e testemunhou o que já adivinhava. Meia dezena daqueles jovens, na casa dos 17 anos, começaram a vandalizar o novo parque para cães, danificando a cerca e a cancela, partindo garrafas para espalhar bocados de vidro pelo recinto, e até arrancaram do chão, à força de braços, o bebedouro dos animais (tudo isto com o desconto de vómitos). Os restantes assistiam aos atos de vandalismo dos colegas como se nada fosse – e a fúria destruidora também atingiria uma paragem de autocarros.
Em pouco tempo, acorreram ao local militares da GNR, e agentes da PSP e da Polícia Municipal, chamados por outros moradores. Apanharam os jovens em flagrante delito, identificaram-nos e mandaram-nos para casa.
Também em pouco tempo, Emanuel Bragança descobriu que aqueles jovens pertenciam à equipa de juniores do Cascais Rugby. Identificou-os quase todos através de fotografias que estão no site do clube. E a sua indignação aumentou, porque é adepto da modalidade. “Foi com absoluta indiferença que lidaram com os elementos das forças de segurança, a ponto de os tratar por ‘tu’”, conta o gestor à VISÃO. “Isto é inadmissível – até porque o râguebi tem valores de cidadania muito próprios e sólidos”, acrescenta.
A autarquia foi rápida a reparar os danos no parque para cães. Mais demorada será a conclusão do processo-crime que, apurou a VISÃO, o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), do Ministério Público de Cascais, abriu sobre o caso, delegando as averiguações na GNR de Alcabideche, que tem jurisdição naquela área do concelho. Estão em causa crimes de dano qualificado em “coisa destinada ao uso e utilidade públicos”, que o Código Penal pune com pena de prisão até cinco anos ou multa até 600 dias.
Em comunicado, o Cascais Rugby (também conhecido por Grupo Dramático e Sportivo de Cascais) demarcou-se do incidente. Esclarece que “não teve nenhum evento” naquele dia, e que, se assim fosse, isso “implicaria a presença de pessoas com responsabilidade no nosso clube”. Depois de condenar aquele “tipo de conduta, seja por quem for”, e de referir a “cidadania e respeito pelo próximo” como “pilares básicos da nossa formação”, o Cascais Rugby compromete-se a “fazer internamente uma ação de sensibilização” e a “agir pedagogicamente” para reforçar os mencionados valores “junto dos nossos atletas”.