A meio do século XIX, Charles Darwin chocou a comunidade científica quando apresentou a sua teoria da evolução. Apesar disso, o biólogo britânico inspirou os seus sucessores a investigar a ligação genética entre os seres humanos e os outros primatas . Em 2005, um estudo concluiu que as parecenças não são meramente superficiais: os chimpanzés e os seres humanos partilham 96% dos seus genes.
Ao longo dos anos, os cientistas continuam a fazer novas descobertas sobre as parecenças biológicas dos seres humanos e dos chimpanzés. A mais recente foi revelada esta semana: uma equipa de investigadores publicou na Science um estudo que revela que, à semelhança da nossa espécie, os chimpanzés também se tornam mais dóceis com a idade.
Mais velhos, melhores relações
As relações entre os seres humanos tendem a melhorar à medida que envelhecemos – as pessoas mais velhas têm menos amigos, mas mantêm por perto os mais próximos. O estudo levado a cabo por Zarin Machanda, uma primatologista da Tufts University, revelou que, tal como os humanos, os chimpanzés também desenvolvem amizades mais profundas à medida que envelhecem.
Machanda e os seus colegas reuniram dados do “Kibale Chimpazee Project”, no Uganda, que existe desde 1987 para investigar o comportamento de chimpanzés. Os chimpanzés são um grupo ideal para investigar mudanças no comportamento social, porque vivem em grandes grupos e cooperam entre si ao longo das suas vidas – tal como os seres humanos. No seu estudo, os investigadores focaram-se apenas nos chimpanzés do sexo masculino.
Muitos investigadores acreditam que os seres humanos se tornam mais dóceis com a idade devido a uma consciência da aproximação da morte. No entanto, este estudo veio questionar essa conceção: ao identificar o mesmo comportamento entre os chimpanzés, podemos estar perante um sinal de que é possível uma espécie ficar mais dócil, apesar de não ter qualquer consciência de que a sua morte está próxima.
As descobertas do estudo
Com base nas relações sociais de 21 chimpanzés, ao longo de 21 anos, os investigadores concluíram que os animais mais velhos (com mais de 35 anos) tinham mais amizades recíprocas do que os mais novos: enquanto os “amigos” mais velhos se sentavam juntos e se escovavam uns aos outros regularmente, os chimpanzés mais novos estabeleciam relações “unilaterais” – escovavam os mais velhos, mas o ato não era retribuído.
De acordo com Ian Gilby, da Arizona State University, os chimpanzés mais novos escovam os mais velhos para subir na hierarquia do grupo. No entanto, à medida que eles próprios envelhecem e descem nesta hierarquia, decidem parar esta competição – “tendem a desistir”. Por outro lado, manter estas relações de cooperação entre si pode ajudar os chimpanzés mais velhos a segurar o seu estatuto social.
Os investigadores também concluíram que os chimpanzés mais velhos têm menos reações agressivas perante outros membros da comunidade – ao contrário dos mais novos, que tendem a entrar em conflitos físicos diariamente.
A prova científica de que os seres humanos não são os únicos a ficar mais dóceis quando envelhecem pode ser uma descoberta fundamental para o estudo do comportamento da nossa espécie. À semelhança dos chimpanzés, este comportamento pode estar associado à manutenção de um lugar na hierarquia social.