O repto foi lançado no ano passado pela assembleia geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, depois de se saber que 14% da alimentação do mundo se perdia entre o produtor e o distribuidor – e mais ainda depois de chegar às prateleiras dos supermercados. Tudo junto daria para alimentar qualquer coisa como dois mil milhões de pessoas. Ou seja, permitiria dar de comer duas vezes a todos aqueles e aquelas que passam fome em todo o mundo.
Se olharmos só para o nosso País, o cenário não é melhor. Embora não haja dados oficiais, estima-se que cerca de um milhão de toneladas de alimentos são, anualmente, deitadas para o lixo. Um desperdício de 50 mil refeições diárias. Feitas as contas, daria para cobrir as carências alimentares dos 360 mil portugueses nessa situação.
Razões mais que suficientes, considerou a presidente da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares, Isabel Jonet, para lançar um novo movimento. Algo que, a nível nacional, congregue práticas e vontades. E a ocasião escolhida para o lançar foi exatamente este primeiro Dia Internacional para a Consciencialização sobre Perda e Desperdício Alimentar.
“É preciso dizer que o desperdício de alimentos não é tolerável e que é um problema de todos”, insiste. Mais ainda, acrescenta, num mundo em crise. “É uma irracionalidade económica, cujo fim pode estar nas nossas mãos”. É por isso que reafirma algo que para quem está nesta luta já é óbvio há muito tempo. “Vamos ter – todos – de passar a olhar para comida como algo que tem valor. E que não é justo para quem não tem que os outros possam continuar a deitar fora”.
Boas práticas
Mas não só. É preciso saber quanto se desperdiça efetivamente em Portugal – “para que se possa olhar para o problema de frente” – e ainda, sinaliza a mentora de mais uma iniciativa, agilizar a legislação. “Continua a apresentar muitos entraves às instituições do setor alimentar que querem doar o que não conseguem escoar.”
Felizmente, há já várias boas práticas de aproveitamento dos excedentes ao fim do dia, assinala Isabel Jonet. E os exemplos estão à vista de quem quiser ver. Desde comida doada pelos restaurantes, recolhida e redistribuída pelos voluntários da Refood, até iniciativas das empresas de distribuição, que criaram zonas de produtos em fim de prazo ou até doam o pão do dia anterior a quem não tiver como pagar.
“Começámos a fazê-lo quando começou o confinamento e a iniciativa foi tão bem recebida que a mantivemos”, confirma, orgulhoso, o gabinete de comunicação do Intermarché de Sacavém. Uma prática que se juntou à já regular doação de bens excedentes a outras instituições.
“É isto que é preciso multiplicar”, remata a economista que há quase 30 anos lançou o Banco Alimentar contra a Fome – e que agora quer ir mais além e influenciar até as políticas públicas. “Ter leis penalizadoras não é nada bom. É muito mais mobilizador quando se premeia quem consegue ajudar”.
Um movimento que quer unir o País contra o desperdício
Chama-se Unidos contra o Desperdício e é um movimento cívico que quer unir a sociedade num combate ativo e positivo ao desperdício alimentar, reforçando a importância de cada um de nós nesta luta. Com o patrocínio da Presidência da República, nasce neste primeiro Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar. O secretário-geral da ONU, António Guterres, não só manifestou o seu apoio institucional à iniciativa como apelou à adesão de todos.
Além da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, contam-se como membros fundadores a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, a Associação Portuguesa de Logística, a Câmara Municipal de Lisboa no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia 2020 (CML), a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA), a Dariacordar/Zero Desperdício e a Refood.
Uma iniciativa a que a VISÃO e o grupo Trust In News também se associaram, e sobre a qual pode saber mais em www.unidoscontraodesperdício.pt