O Instituto para a Comunicação Social na África Austral (MISA-Moçambique) exigiu hoje esclarecimentos sobre o incêndio, provocado por fogo posto, que destruiu as instalações da redação do jornal Canal de Moçambique no domingo, em Maputo.
“O MISA-Moçambique exige que as autoridades ajudem a esclarecer o mais breve possível este caso, responsabilizando exemplarmente os seus atores, e que tome as medidas que forem necessárias para que casos idênticos não voltem a acontecer”, lê-se na nota distribuída à imprensa.
A redação do semanário Canal de Moçambique, localizada no centro de Maputo, ficou destruída, quando desconhecidos atearam fogo na noite de domingo, disse hoje à Lusa o editor da publicação, André Mulungo.
O MISA considera que nunca pode haver democracia numa sociedade onde as instituições da liberdade de expressão e de imprensa são “sistematicamente vítimas da intimidação e da ameaça”, que é precisamente o objetivo que os autores deste ataque pretendem alcançar.
“Este ataque nunca deve ser visto de forma isolada do contexto de uma estratégia global, posta em marcha pelas forças mais retrógradas da nossa sociedade, para reverter o processo democrático em Moçambique, fazendo estremecer os pilares que o sustentam”, acrescenta.
“O MISA Moçambique lamenta profundamente que atos atentatórios contra a liberdade de expressão e contra a liberdade de imprensa aconteçam no país com regularidade, sem que os seus autores e promotores sejam responsabilizados”, frisou.
Várias organizações da sociedade civil condenaram o atentado, considerando que se trata de um “duro golpe contra a liberdade de imprensa, um dos fundamentos da democracia”.
O Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) também repudiou o caso e manifestou-se disponível para apoiar o Canal de Moçambique.
“Enquanto se organizam, o SNJ está na disposição de conceder um espaço para a redação do Canal de Moçambique ocupar, enquanto criam as condições para o retorno da sua atividade”, declarou o secretário-geral do SNJ, Eduardo Constantino.
O Canal de Moçambique é um dos principais semanários do país e tem-se destacado por trabalhar em matérias como corrupção e governação.
O jornal já foi várias vezes alvo de processos judiciais por alegada calúnia e o seu diretor-executivo, Matias Guente, foi recentemente intimado pela Procuradoria-Geral da República para responder a perguntas sobre textos que o semanário escreveu envolvendo contratos na área de segurança entre o Governo e as multinacionais petrolíferas que operam na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.
No final do último ano, Matias Guente escapou a uma tentativa de rapto em Maputo, um episódio também ainda por ser esclarecido e que gerou repúdio por parte de várias entidades moçambicanas e internacionais, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia.
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