Um estudo publicado pela American Psychological Association, nos EUA, concluiu que as crianças que sofrem traumas derivados de abusos e violência ao longo da infância, têm tendência a envelhecer mais rápido do que as crianças que nunca experienciaram essas situações.
Os pesquisadores estudaram três sinais principais de envelhecimento biológico: a puberdade, o envelhecimento das células e as mudanças na estrutura cerebral. Desta forma, concluíram que a exposição a ambientes violentos ao longo da infância, não desenvolve apenas doenças psicológicas, como a depressão, transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – é possível que, ao lidar com as adversidades a que são expostas, as crianças desenvolvam, também, doenças cardiovasculares, diabetes, cancro, abuso de substâncias e, nos casos mais graves, pode conduzir até mesmo ao suicídio.
Os pesquisadores das Universidades de Washington, Stanford e Harvard reuniram as conclusões de quase 80 estudos e estudaram mais de 116 mil participantes que cresceram em ambientes hostis. Assim, conseguiram diferenciar dois aspetos: a “ameaça” e a “privação”. Os ambientes de “ameaça” incluíam abuso e violência, e estavam mais associados ao rápido envelhecimento. Já os ambientes de “privação”, pautados pelo abuso infantil, agressão sexual, negligência ou pobreza, tiveram um efeito notável, mas menos preocupante, no que concerne à aceleração do envelhecimento.
O estudo demonstra, ainda, que os traumas e a violência a que as crianças são expostas na infância, estão ligados à redução da espessura do córtex, um sinal de envelhecimento, pois ele diminui à medida que as pessoas envelhecem. Concluíram, assim, que as adversidades que as crianças experienciam estavam relacionadas com a diminuição do córtex pré-frontal ventromedial, uma parte do cérebro relacionada com o processamento de informações sociais e emocionais. Já as crianças que experienciam ambientes de pobreza e privação, mostraram uma redução do córtex frontoparietal, responsável por controlar as tarefas sensoriais e cognitivas. A explicação para esta observação é que o envelhecimento mais rápido do que o normal, desencadeado por um ambiente violento, pode ser apenas uma forma através da qual iniciamos a nossa capacidade de desenvolvimento. Então, se as regiões do cérebro responsáveis pelas emoções se desenvolvessem mais rapidamente, as crianças seriam mais capazes de identificar e responder a ameaças, protegendo-se do ambiente violento à sua volta.
Katie McLaughlin, professora de psicologia da Universidade de Harvard e uma das autoras do estudo, admite que é possível reverter as mudanças negativas e evitar as marcas físicas e psicológicas nas crianças. Para tal, a ajuda dos pediatras é essencial, uma vez que devem conseguir notar sinais de violência e privação nas crianças mais jovens. Já nos adolescentes, intervenções como a terapia cognitivo-comportamental são uma solução a ter em conta, já que pode ajuda a ultrapassar doenças como a depressão.