Nos meses negros que antecederam a queda do BES e do GES, um homem venezuelano de 60 anos apareceu duas vezes na sede do Banco Espírito Santo, na Avenida da Liberdade, para ser apresentado como uma espécie de salvador. Esse homem, que teria residência em Madrid, foi chamado, pela primeira vez, a 2 de abril de 2014 para uma reunião com elementos do banco, entre eles Amílcar Morais Pires, administrador financeiro do BES, Isabel Almeida, diretora do Departamento Financeiro de Mercados e Estudos (DFME), e João Alexandre Silva, o diretor do BES Madeira que tratava das relações com os clientes venezuelanos. Pouco mais de um mês depois, a 7 de maio de 2014, esse mesmo homem voltou a deslocar-se a Lisboa, na companhia de João Alexandre Silva, desta vez para participar numa importante reunião da Comissão Executiva do BES.
Segundo o Ministério Público, à exceção do líder do BES Madeira e de Ricardo Salgado, todos terão acreditado que o homem que tinham à sua frente era um representante da Petróleos da Venezuela (PDVSA) e que a importante petrolífera venezuelana se preparava para adjudicar ao BES, no âmbito de um suposto concurso internacional, a gestão de um fundo de ativos e de uma carteira de investimentos. Muitos funcionários do banco, motivados pela urgência de Salgado, tinham trabalhado em ritmo acelerado naquele mês para apresentarem uma boa proposta à empresa de petróleos.
O sexagenário foi apresentado com pompa e circunstância na Avenida da Liberdade como Domingos Galan Macias, mas não era esse, de facto, o seu nome, já que essa identidade havia sido roubada a um porteiro espanhol. O nome do homem anunciado como representante da PDVSA era, na verdade, José Trinidad Márquez. Na primeira acusação nascida da investigação ao colapso do BES e do GES, deduzida no passado mês de julho, o Ministério Público diz que Ricardo Salgado enganou administradores e diretores do banco, recrutando este homem para se apresentar como falso representante da petrolífera, forjando documentos e ficcionando a existência de um concurso público internacional da PDVSA. Tudo isto para não perder um dos seus mais importantes clientes.
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