
Na noite de 13 de maio de 1662, desembarcou em Portsmouth, na costa sul de Inglaterra, uma jovem portuguesa de 22 anos envolvida num largo capote. A viagem por mar, num daqueles grandes navios de madeira cheios de portinholas atrás das quais se escondiam bocarras de canhões, durara um mês e deixara-a muito enjoada, e por isso pediu que a deixassem descansar ali uns tempos, antes de seguir viagem para Londres. A cidadezinha, húmida e envolta na bruma, era muito diferente das do seu país natal, e as pessoas falavam uma estranha língua formada por palavras curtas e sincopadas, por vogais nasaladas e como que carregadas de espanto e de ironia. Naquele tempo, com o século XVII bem avançado em anos, mas antes ainda da explosão global britânica do século seguinte, praticamente só os nativos de Inglaterra sabiam falar inglês. Na Europa, quem era culto contactava com os estrangeiros em francês, e os portugueses dialogavam com os espanhóis na língua destes.
A jovem portuguesa, por sinal não especialmente bela, enjoada e tiritante de frio, no cais e na casa para onde a levaram, chamava-se Catarina. Viajara até Inglaterra, até à brumosa Albion, para se casar, mas nunca tinha visto o futuro marido. Só viria a conhecê-lo quando este a foi visitar a Portsmouth, uma semana depois de ela ter desembarcado. Com o seu metro e oitenta, era um homem altíssimo para os padrões da época, e a cabeleira e os sapatos de tacões aumentavam-lhe ainda a estatura. Fazendo grandes vénias, com a pluma do chapéu que empunhava quase a roçar o chão, Carlos – assim se chamava o noivo – não vinha sozinho. Pelo contrário, acompanhava-o uma grande comitiva sujeita a rígidas regras de etiqueta. Não admira que assim fosse, pois Carlos Stuart era rei daquele país onde se falava uma língua tão esquisita.
Catarina de Bragança estava, pois, destinada a ser rainha de Inglaterra. Mas não sabia ainda que iria ser pouco feliz durante a sua longa estada de três décadas, na Grã-Bretanha, que teria grandes problemas, que se defrontaria com enormes obstáculos e que haveriam de acusá-la de coisas que ela nunca fez. Mas, sobretudo, ignorava ainda até que ponto a própria iria influenciar os usos e costumes dos ingleses. É que, por mais discreta, reservada e tímida que fosse, esta rapariga que não dava especialmente nas vistas iria tornar-se aquilo que hoje chamamos – na língua do seu novo país, transformada atualmente em idioma global – uma influencer.
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