O mundo da moda está a mudar. É possível vê-lo nas lojas, com o aumento de diversidade de produtos e tamanhos, e nas campanhas publicitárias, com cada mais tons de pele e formatos de corpo representados. Nesta onda, nasceu a The Underargument com o propósito de criar simultaneamente um site que compartilha histórias inclusivas autênticas e uma marca de lingerie. Desde 2018, a marca escolhe as modelos sem as ver.
Maïna Cissé, fundadora da marca, afirma que esta é uma forma de levar a conversa para longe dos corpos e dizer às mulheres “és mais do que apenas um corpo, a tua história é valiosa”. Por isso, não é necessária experiência prévia no mundo da moda, não é preciso submeter fotografias nem expor as medidas corporais.
Em 2018, quando foi lançada a primeira coleção, a marca introduziu o denominado “anticasting” ou escolha cega. Este método pressupõe que as aspirantes a modelos enviem as suas histórias com base num tema das coleções – todas argumentos contra a norma. “Cada peça de lingerie é nomeada e rotulada após uma citação poderosa para lembrar quem a usa a abraçar a sua individualidade”, lê-se no site.
Em nome da diversidade
Na coleção 01, “Em prol do incrível // Contra o perfeito”, Lily advoga pela normalização de pelos nas mulheres. Na segunda, a favor da identidade e contra os estereótipos, Amy conta-nos como é que a Doença de Crohn influenciou o seu sentido de feminilidade. Na coleção 03, “Em prol do amor // Contra o esquecimento”, lemos sobre violação, consentimento e violência doméstica no testemunho pessoal de Naomi. Na quarta, onde se quer ultrapassar o sexismo, Judy diz que ser queer, bissexual e feminina fá-la sentir-se sexy. Finalmente, na coleção 05, “Em prol do carinho // Contra a acomodação”, Mary e Lily falam sobre o seu poliamor.
Estas e muitas outras histórias e mulheres estão à distância de um clique. “São todas diferentes, mas são todas incríveis”, garante Cissé. “Nunca conhecemos as pessoas antes, mas nunca tivemos uma sessão má.” As modelos ajudaram a desenvolver a marca. “Comecei com 10 tamanhos de sutiã e agora tenho mais de 40”, confidencia ainda Cissé, que já trabalhou em marketing e é contra inserir as minorias em “caixas” que as definem, preferindo antes usá-las em nome da diversidade das marcas.
“As minorias não são tendências e as pessoas que não se parecem com modelos não são tendências”, defende. Com The Underargument, a criadora quis dar um espaço onde as mulheres possam ser donas da sua narrativa. “Estou sempre a dizer: ‘Se não te vês aqui, esse é mais um motivo para enviares a tua história'”, diz. O mundo da moda está a mudar por todo o lado: basta estar atento e abraçar a diversidade.