A sociedade suíça Eurofin, liderada pelos gestores Alexandre Cadosch e Michel Creton, está no centro de um esquema fictício de compra e recompra de obrigações e de circulação de dinheiro entre o BES e o GES – esquema essa que terá causado enormes prejuízos ao Banco Espírito Santo. O Ministério Público alega que, entre 2003 e 2014, as sociedades Eurofin, em conjugação com Ricardo Salgado e com uma equipa do Departamento Financeiro de Mercados e Estudos (DFME) do BES, forjaram contratos de opção para fazerem pagamentos de prémios fictícios em benefício de sociedades do GES, como a Espírito Santo Enterprises. O objetivo era claro: que empresas como esta, que não estavam registadas nos relatórios contabilísticos nem no organograma do grupo, tivesse dinheiro suficiente para pagar, de forma clandestina, a funcionários e administradores do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).
O circuito permitia fazer sair dinheiro do BES e canalizá-lo para pagamentos do interesse do GES sem que fosse fácil perceber que era o banco liderado por Ricardo Salgado que estava a financiar uma série de pagamentos da área não financeira.
Acontece que, de acordo com o despacho de acusação do primeiro processo do universo Espírito Santo, o esquema também terá servido para remunerar entidades externas ao grupo, como é o caso do grupo Ongoing, que recebeu por esta via 1,3 milhões de euros do GES. Ricardo Salgado usaria a suíça Eurofin Securities pelo menos desde 2003 para dar liquidez às sociedades do GES que eram usadas para fazer os tais pagamentos ocultos.
Do lado da Eurofin, a Zyrcan e a Martz Brenan eram as escolhidas como “distribuidoras de dinheiro”. Do lado do GES, a Enterprises e a Alpha Management eram as escolhidas para “beneficiar deste dinheiro”.
O circuito, diz o Ministério Público, “assentou num esquema de contratos fraudulentos, celebrados com um propósito tabelar de justificar, em termos contabilísticos, e de compliance, sempre que necessário, a saída de dinheiros”. Por um período de 12 anos, entre 2003 e 2014, Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires (o então administrador financeiro do BES), terão recorrido a um grupo de funcionários portugueses e suíços para levarem o plano avante. Todos são agora acusados de associação criminosa. Quando Salgado precisava de dinheiro para fazer pagamentos não documentados,a direção de Amílcar Morais Pires e a equipa do DFME tratariam de encontrar as fontes de liquidez e arranjar contratos de instrumentos financeiros comuns, os chamados contratos de opção.
Nos dias 11 de abril de 2014 e 14 de abril de 2014, por exemplo, foram dadas indicações para um pagamento à Ongoing de 330 mil euros, através destes contratos de opção. Terá sido assim que no dia 15 de abril desse ano a Martz Brenan conseguiu transferir 330 mil euros para a Ongoing Strategy Investment SGPS.
De acordo com os dados reunidos pelo Ministério Público, a 25 de novembro de 2008 terá havido também um encontro entre António Soares, do BES Vida, Paulo Cardeira Gomes (da Ongoing) e Alexandre Cadosch, diretor da Eurofin, que levou à decisão de que o Grupo BES investiria 150 mil euros em estruturas Ongoing que por sua vez iriam investir nos subfundos detidos pela Zyrcan, entre os quais o Solaris VC. Essa entidade seria o fundo Ongoing International Private Equity.
O universo do grupo então liderado por Nuno Vasconcellos terá sido muitas vezes financiado com Fundos ESAF, que por seu turno se financiava com dinheiro do BES e dos seus clientes.
Em 2013 e 2014, por determinação do DFME, a Martz Brenan transferiu para a Investoffice e para a Ongoing SGPS os tais 1,3 milhões de euros. Ninguém ligado à Ongoing foi constituído arguido neste processo. Por estes factos, Ricardo Salgado e seis antigos funcionários do BES e dois da Eurofin são acusados de falsificação de documento.