Todos para casa, ditaram as regras a partir de março. E foi logo aí que o comportamento nas plataformas digitais de encontros começou a mudar. Quem não se confinou com companhia, viu a sua vida a andar para trás nesse capítulo, pois o contacto físico ficou vedado e novas “amizades” nem vê-las.
Em abril, Rita Sepúlveda e Miguel Crespo, investigadores do MediaLab do ISCTE e com matéria publicada sobre o assunto, divulgaram um relatório sobre o online dating em tempos de Covid-19, com o objetivo de compreender como essas plataformas tinham reagido ao contexto pandémico.
“Concluímos que, em tal âmbito, o online dating parecia mais do que nunca imitar experiências offline, com as plataformas a incentivar os utilizadores a manter o contacto, mas a reinventar os encontros em formato seguro, visto que era desaconselhado encontrarem-se pessoalmente, sugerindo a utilização de videochamada para a sua concretização”, explica Rita Sepúlveda.
Agora, em julho, a mesma dupla apresentou um estudo de caso, especificamente sobre o Felizes.pt, uma plataforma com mais de 200 mil utilizadores, a maior em Portugal, de acordo com os dados facultados, e com a particularidade de ser apenas em português. Normalmente, consideram-se ativos mais de 46 mil utilizadores, mas no último mês esse valor chegou quase aos 60 mil. Com base nos números divulgados, perceberam que a pandemia também tomou parte da realidade dos encontros online.
Os sites de encontros e os seus utilizadores reagiram à nova realidade e ao confinamento. “As plataformas transmitiam informação sobre cuidados a ter e desafiavam as pessoas para encontros virtuais. Já os perfis e as conversas continham expressões relacionadas com a nova realidade.” O Felizes.pt começou a verificar menções à palavra Covid-19 ou coronavírus em fevereiro, atingindo o seu pico entre finais de março e inícios de abril.
A caminho da normalização
No caso do Felizes.pt, Rui Sousa, sócio-gerente, confirma um aumento de novos registos na casa dos 27% em relação ao período homólogo de 2019. E essa subida deu-se tanto no volume de acessos, como na duração do tempo que estão online – as sessões passaram de 16 minutos, em média, para os quase 20. No que toca à distribuição do uso da plataforma ao longo dos dias da semana, ela tornou-se mais igualitária, atenuando a preferência que antes se sentia pelo fim de semana. E os casados, que neste site nem são em grande quantidade, tornaram-se ausentes no período em estudo, como seria de esperar.
Por estes dias, o funcionamento do site parece ter normalizado. Os novos registos não se foram embora, mas o tempo de permanência no chat regularizou e as menções à doença também se esfumaram
Durante a quarentena, após o login, a atividade mais comum passou a ser o uso do chat, em cerca cerca de 40% dos casos – este perfil pode indiciar que iriam ver as mensagens e conversações pendentes, suportando a ideia de que parte da comunicação se manteve através da plataforma. Os encontros através de videochamada foram vistos, então, como solução nestes tempos de pandemia, para dar resposta à proibição dos encontros presenciais. Este formato já está associado em algumas plataformas e outras assumiram que as iriam integrar, apesar das questões de (in)segurança inerentes
A idade média dos acessos no Felizes.pt situa-se nos 40 anos, com tendência para subir. “Os nossos utilizadores são muito diferentes do Tinder, porque a nossa proposta é virada para um público mais velho. Esta não será a melhor plataforma para encontros casuais, mas sim para relacionamentos sérios”, resume Rui Sousa. Aliás, há dezenas de casos felizes expostos, com fotografia, na página online.
Por estes dias, o funcionamento do site parece ter normalizado. Os novos registos não se foram embora, mas o tempo de permanência no chat regularizou e as menções à doença também se esfumaram. Afinal, a ordem é para desconfinar.