O abrandamento das medidas de contenção não implica necessariamente que os países estejam preparados para conviver com o vírus e com as suas implicações na comunidade, pelo contrário. Em muitos casos, a falsa sensação de segurança está a fazer com que parte das populações acreditem que podem voltar ao estado pré-pandemia.
“Se a economia está a funcionar, significa que a pandemia está a passar”
“Isto ainda está longe de acabar”, disse esta segunda-feira, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da Organização Mundial da Saúde, em conferência de imprensa. “Embora muitos países tenham feito um progresso global, a pandemia está a acelerar. Estamos juntos nisto e participamos todos a longo prazo”. “Já perdemos muito mas não podemos perder a esperança”, disse o diretor.
Como referiu o diretor da OMS, a pandemia ainda está longe de ser controlada e para que tal aconteça é necessário que existam tratamentos e/ou vacina e uma imunidade de grupo, que normalmente é atingida quando 70% a 90% da população está infetado. Portugal, neste momento, tem menos de 1% de infetados (0,4%).
Até lá, o único “tratamento” que podemos ter é seguir as normas da Direção-Geral da Saúde, utilizando a máscara, mantendo o distanciamento social e evitando aglomerados.
“Porque não ficamos todos infetados e criamos a imunidade de grupo?”
Como referimos, para que exista uma imunidade de grupo é necessário, no mínimo, que 70% da população fique infetada e que consiga recuperar. Ora, este cenário não será possível porque existem vários grupos de risco, que, quando infetados, necessitam de um tratamento intensivo. Se deixássemos de ter os cuidados básicos e apostarmos numa imunidade de grupo, os hospitais iriam entrar em colapso e haveria inúmeras mortes, como assistimos noutros países. Mesmo não estando a adotar este método, já existem hospitais em rutura e os pacientes não-Covid já não estão a ser devidamente acompanhados.
Existe ainda outro problema sobre a imunidade: este vírus é novo e ainda não se sabe se os anticorpos desenvolvidos irão conseguir promover uma imunidade a longo prazo. Assim, a opção da imunidade de grupo, por agora, fica descartada.
“Sou jovem e saudável, não preciso de me preocupar”
Nas últimas semanas têm surgido várias notícias sobre aglomerações de jovens que acabaram por desencadear novos surtos. O facto de ser jovem e ser saudável não é necessariamente uma condição para ser imune ao vírus.
Jen Caudle, médica de Nova Jersey, conta à CNN que assistiu a pacientes jovens sofrerem condições graves ou a longo prazo com a Covid-19, apresentando derrames nos pulmões, falta de ar, fadiga ou perda de olfato. Para além da possibilidade de contrair o vírus, os jovens, mesmo assintomáticos, podem contagiar outras pessoas que tenham uma condição mais frágil, podendo resultar em internamentos ou até em mortes.
Atualmente, em Portugal, o número de casos confirmados nos jovens dos 20 aos 29 (6269) é quase igual aos adultos dos 50-59 (6690).
“Basta medir a temperatura dos clientes para um estabelecimento ser seguro”
Apesar de ser uma medida que está a ser utilizada em vários estabelecimentos públicos, medir a temperatura dos clientes não basta para que o local seja seguro. Como sabemos, existem pessoas assintomáticas, que não apresentam sintomas mas podem contaminar outras, assim como podem estar infetadas e simplesmente ainda não ter febre. E existe também a possibilidade de as pessoas apresentarem outros sintomas que não a febre.
O facto de num estabelecimento não haver pessoas com febre ou outros sintomas visíveis cria uma falsa sensação de segurança, podendo levar a um descuidado e quebrar as regras de segurança. Assim, mesmo medindo a temperatura, é importante adotar todas as medidas recomendadas.
“Eu não preciso obrigatoriamente de usar máscara”
Apesar de ser um assunto muito debatido, a utilização das máscaras é recomendada. Um estudo do Instituto de Métricas e Estimativas de Saúde refere que se 95% dos americanos utilizassem máscaras em público, isso poderia impedir 33 000 mortes até ao dia 1 de outubro deste ano.
“Algumas pessoas acham que as máscaras infringem a sua liberdade de escolha, mas quanto mais as usarem, teremos MAIS liberdade para sair”, twittou Jerome Adams , que foi nomeado por Trump como Cirurgião Geral dos EUA. “Máscaras faciais → disseminação viral menos assintomática → mais lugares abertos e mais cedo!”
Em Portugal, atualmente, não é obrigatório o uso de máscaras em espaços públicos.
“Uma menor taxa de mortalidade significa que as coisas estão a melhorar”
O dia do fim do desconfinamento em Portugal foi no dia 2 de maio. Desde então, que temos assistido a uma tendência de diminuição no número de mortes, mas isto não significa que a pandemia esteja controlada.
Os especialistas explicam que os picos atuais, seja de novos casos, seja do número de mortes, correspondem à situação de há várias semanas. Estes confirmam ainda que o número diário de mortes por Covid-19 normalmente diminui quando o número de casos aumenta. “Demora cerca de uma semana depois de alguém ser infetado até ficar doente o suficiente para ser hospitalizado, e muitas vezes cerca de uma semana depois até se começar a ver mortes”, disse Jonathan Reiner, professor da Faculdade de Medicina da Universidade George Washington, nos EUA .
“Já fiz o teste, deu negativo, logo não preciso de me preocupar”
Um teste negativo não significa imunidade. “Às vezes, existem falsos negativos, o que significa que as pessoas têm a doença, mas o teste não a detetou”, de acordo com a Penn Medicine .”Como é possível dar um resultado negativo mesmo quando se está infetado, é importante ter cuidado”.
“Temos ferramentas poderosas à nossa disposição – o distanciamento social, o uso de máscaras em público e a disciplina sobre o lavar frequente das mãos”, refere Redfield. “Não estamos indefesos contra esta doença.”