Os castores são conhecidos pelos seus dentes afiados, tão necessários para ajudar a transformar os troncos e ramos de árvores, e outros tipos de vegetação, em barragens. Estas, por sua vez, para além de garantirem a existência de um habitat para os animais, trazem consigo um grande problema: inundam os vales e formam novos lagos capazes de cobrir vastos hectares de terra. Para além disso, contribuem para o degelo do permafrost, ou seja, a degradação dos solos constituídos por terra, gelo e rochas, muito comuns na região do Ártico.
O fator que está a alarmar os cientistas é que o permafrost constitui um reservatório de metano, um gás com efeito de estufa e, à medida que se vai degradando, o metano e o carbono são libertados para a atmosfera, originando grandes oscilações no clima.
Os castores do Alasca e o seu contributo para o permafrost
Ao longo dos últimos anos, os cientistas descobriram a presença de castores na tundra do Alasca, lugar onde nunca tinham sido avistados. De acordo com o estudo de imagens de satélite publicado na revista Environmental Research Letters Monday, é possível concluir que o número de barragens construídas pelos castores tem vindo a aumentar, sendo capazes de controlar a dinâmica das águas superficiais e da temperatura térmica da região. No entanto, isto revela-se um problema, pois contribui para a intensificação do degelo do permafrost.
“Estamos a assistir a um crescimento exponencial no Ártico. O número de estruturas duplica a cada 4 anos”, como afirma Ingmar Nitze, autor do estudo no Alfred Wegener Institute de Pesquisa Polar e Marinha, na Alemanha, citado pela CNN.
O estudo concluiu, ainda, que o número de barragens de castores numa área de 100 quilómetros quadrados à volta da cidade de Kotzebue, no Alasca, aumentou de apenas duas em 2002, para 98 em 2019.
Os castores e os seus habitats naturais
A mudança dos castores para zonas que normalmente não se revelam as óbvias para habitarem, como é o caso do Ártico, está a conduzir ao agravamento das alterações climáticas.
Segundo Nitze, tem-se verificado “um aumento na vegetação. Existem mais arbustos a chegar ao Ártico, que são utilizados para a construção de barragens, bem como para alimentação dos animais”. Para além disso, os lagos que antes congelavam de forma sólida, estão, agora, a oferecer condições mais favoráveis aos castores. Isto é o resultado de uma menor cobertura sazonal de gelo que se verifica no inverno.
Por sua vez, a tundra também não se revela o habitat natural dos castores, isto porque se carateriza como sendo um espaço onde as temperaturas são muito baixas, com clima seco, e onde por vezes não existe qualquer tipo de vegetação. Assim, nesta zona, os castores não têm de se preocupar em enfrentar predadores e, para além disso, estão protegidos pela lei federal dos EUA que conduziu a uma diminuição da prática da caça destes animais.
O degelo do permafrost provém dos lagos criados pelos castores, que contêm água mais quente que o solo circundante. De acordo com Nitze “o problema do permafrost é que a água interage fortemente com o solo congelado abaixo dele”. Citado pela CNN, acrescenta, ainda, que quanto maior for a quantidade de água superficial, pior é para o permafrost. Isto deve-se ao facto de que “no inverno o ar frio pode não penetrar novamente no solo, e a água armazena muito calor, o que pode, realmente, levar a que se penetre no solo”.
Segundo os cientistas, o próximo passo será continuar a analisar as consequências do degelo do permafrost. O estudo da forma como os castores produzem emissões de metano e CO2 nos lagos do Ártico, ainda é algo muito recente. No entanto, é inegável que os animais podem ter um impacto muito significativo nas paisagens e contribuir para as alterações climáticas.