Era regularmente descrita como uma mulher extrovertida e encantadora, aparecendo sempre a sorrir ao lado dos mais famosos do planeta. Mas há já algum tempo que desaparecera da vida pública. Nos últimos tempos, fora mesmo dada como em parte incerta – sobretudo desde que se viu implicada no caso judicial contra Jeffrey Epstein, o milionário americano acusado de ter um esquema de violação de menores e que se suicidou na prisão, em Nova Iorque, em agosto passado.
Nada que tenha feito desaparecer as acusações que também pendem sobre ela: segundo as muitas vítimas do caso, a socialite britânica Ghislaine Maxwell, de 58 anos, não só estava ciente das ações do antigo namorado, como também recrutou jovens mulheres e raparigas para Epstein. No entanto, na altura não chegou a ser acusada criminalmente e negou todas e quaisquer acusações contra ela.
Agora, o FBI acaba de anunciar que a deteve, em New Hampshire, nos EUA. Um processo entretanto apresentado contra si alega que cometeu seis crimes, incluindo transporte de menor para atividade sexual criminosa e dois casos de perjúrio. A procuradoria americana está inclusive convencida de que Maxwell mentiu em tribunal, quando interrogada sobre o esquema de recrutamento de menores de Epstein: “Não sei de que está a falar”.
Subitamente no verão passado
A última vez que fora vista em público remonta já ao tempo em que Jeffrey Epstein se suicidou na prisão. Uma série de fotografias que correram as redes sociais mostravam Ghislaine num restaurante de hamburgueres em Los Angeles, do outro lado do país. Mas no mês passado, os advogados das alegadas vítimas, que decidiram avançar com um processo contra ela, fizeram saber que não a estavam conseguir localizar.
Segundo a “ABC News”, um dos advogados enviou intimações para cinco moradas anteriormente ligadas a Maxwell, incluindo uma casa em Manhattan, um apartamento em Miami e a mansão de Epstein na ilha de Palm Beach. Além disso, acrescentava a “Esquire”, convencidos de que Ghislaine Maxwell era a pessoa que mais sabia sobre os crimes de Epstein, o próprio FBI teria continuado a investigação depois do suicídio do milionário, há um ano.
Porém, não há muitos mais detalhes sobre o que aconteceu entretanto: diz o “The Miami Herald” que terá estado em contacto com o príncipe André, várias vezes foi referido como um dos presentes nas conhecidas festas com menores. E também que apresentou uma queixa como antiga funcionária de Epstein, pedindo uma compensação por honorários em falta, além de alojamento e segurança privada, por estar a ser alvo de ameaças.
Filha de um magnata…
O mundo das celebridades não era desconhecido para Ghislaine quando chegou aos EUA, em 1991. Filha mais nova do magnata da imprensa britânica Robert Maxwell, aparecia regularmente ao lado do pai, um imigrante checo proprietário da bem sucedida editora Pergamon Press, com participações numa série de jornais diários e também. Mas sua morte inesperada, ao cair do seu iate chamado Lady Ghislaine, enquanto estava de férias nas ilhas Canárias, deixou a jovem desconsolada.
É quando Ghislaine decide mudar-se para outro lado do Atlântico – já a imprensa britânica rotulara o pai de “vigarista do século”, depois de se saber que tinha desviado mais de 900 milhões de dólares das pensões dos seus empregados do Mirror Group Newspapers. E que no dia da sua morte deveria encontrar-se com o Banco de Inglaterra, para discutir a crescente dívida das suas empresas.
Instalada num apartamento bem mais modesto do que a vida faustosa que levava até então, foi pouco depois que Ghislaine conheceu Epstein, então um jovem bilionário com quem assumiu um relacionamento. E a presença dos dois em festas ao lado dos ricos e famosos da América tornou-se constante. Mas em vários momentos houve várias etiquetas para a sua relação. Ghislaine era a gerente da casa, uma empregada ou uma sócia.
…e melhor amiga de outro
O próprio Epstein chama-lhe “melhor amiga” num perfil de 2003 na Vanity Fair. Depois, quando quando se soube do historial de abusos de jovens raparigas, e da sua alegada participação, a mulher ganhou novos títulos: senhora da casa, recrutadora de massagistas, abusadora…
Na sua versão, conta o The New York Times, fora contratada para gerir as casas de Epstein, em Novo Iorque, Novo México, Paris, Ilhas Virgens e Florida, onde, entre 1998 e 2006, organizou as mais diversas festas, por onde circularam não só o príncipe André – várias vezes também implicado no caso de abuso das menores, mas também os Clinton e até Trump, que não deixou agora que tweetar sobre o assunto.
A verdade é que, mesmo depois de Epstein se ter declarado culpado e cumprido pena de prisão em 2008, por solicitção de prostituição, Ghislaine manteve sempre o seu estilo de vida público. Criou inclusive uma, entretanto extinta, organização ambiental sem fins lucrativos, o Projecto TerraMar. E até 2015 deixou-se fotografar ao lado de nomes como Arianna Huffington, Martha Stewart e Michael Bloomberg. Até que Epstein foi novamente preso em Julho de 2019, sob acusações federais de tráfico de menores, em Nova Iorque e na Flórida – e se suicidou na cela, um mês depois.