“Estão com esta conversa de que só há mais infetados porque se fazem mais testes, mas isto é esconder uma realidade. Há algumas semanas que o número oficial de médicos e profissionais de saúde doentes não ultrapassa os 500 e poucos. Mas nós temos informação de que são pelo menos 650.” A afirmação é de Jorge Roque da Cunha, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que não se fica por aqui. “Veja-se o surto agora no IPO. Na semana passada, foi no Hospital Santa Maria. Antes, tinha sido no Hospital Fernando da Fonseca, na Amadora. Há uma atitude generalizada de desvalorizar estes casos, mas, neste momento, são 12 os médicos internados em cuidados intensivos.”
Menos um do que esta quinta-feira à noite, quando foi confirmada a morte de um clínico de 68 anos, internado no Hospital São José, em Lisboa. Especialista em Medicina Geral e Familiar colaborava com a equipa de gastroenterologia do Hospital Curry Cabral. Uma unidade entretanto transformada em hospital exclusivo Covid-19 – e onde houve igualmente um surto entre médicos, há dois meses, recorda o SIM.
“A questão é que continuam a só fazer teste aos profissionais de saúde quando têm sintomas. Como é que assim se protegem estas pessoas, em permanente contacto com outros doentes?”, segue Roque da Cunha, recusando que este discurso possa ser interpretado como alarmista. “Estamos muito longe de ter a pandemia sob controlo. Não podemos baixar a guarda”. Nem, sublinhou várias vezes, andar a repetir que só temos mais casos porque estamos a fazer mais testes. “É só para dar uma ideia cor-de-rosa de um país que não existe.”