Francisco Fonseca, ilustrador e street artist, que se assina Francis.co, surpreende-nos: “Nem sabia que ia ganhar algum. Não li bem o contrato.” Aos 26 anos, diz ter aceitado “automaticamente” o convite para integrar o projeto #AllTheArtists. A curadoria do movimento, a cargo da Mistaker Maker-Plataforma de Intervenção Artística, deu-lhe logo toda a confiança: “É gente que faz acontecer”, diz. Depois, agradou-lhe o formato da máquina de café espresso que ia decorar e que confessa que desconhecia.
O projeto nasceu exatamente a 9 de abril passado, na sede, em Aveiro, da Fiamma, fabricante nacional de máquinas profissionais de café (para restaurantes e hotéis, por exemplo), e que desde a sua fundação, em 1977, se estendeu por 73 países. Ponto de partida: “O café está intimamente ligado à arte e à cultura”, diz João Costa, diretor de marketing da Fiamma. Objetivo – apoiar uma comunidade que sofreu um impacto tremendo com a pandemia do coronavírus.
Escolhido o modelo da Fiamma para o projeto (a máquina de café Vela, mais adequada ao uso doméstico) e concretizada a colaboração com a Mistaker Maker para a curadoria, que convidou 21 artistas plásticos (17 portugueses e quatro estrangeiros), era preciso fazer contas. Com IVA, cada “obra de arte em forma de máquina de café espresso”, como diz João Costa, fica em €4 305. Deste montante, €700 destinam-se ao artista que decorou a Vela e €1 400 a associações e entidades de caráter social por ele escolhidas.
Com IVA, cada “obra de arte em forma de máquina de café espresso” custa €4 305
“Esmagámos ao máximo a nossa margem”, afirma o diretor de marketing da Fiamma. “Ficamos com 40 por cento, o mínimo dos mínimos para pagar custos e não termos prejuízo”, acrescenta. E a empresa, sublinha, “oferece o serviço de deslocação e de instalação”.
As máquinas de café decoradas pelos 21 artistas escolhidos pela Mistaker Maker foram colocadas à venda, no último dia 15, no site www.alltheartists.fiamma.pt. Só estão disponíveis para aquisição cinco exemplares de cada obra, o que a transforma em “peça única”, considera João Costa.
À data de sexta-feira, 22, estavam a ser processados os primeiros oito pedidos de compra – quatro de Portugal, três dos EUA e um de França. Como cada máquina “oferece” €2 100 ao artista que a decorou, chega-se, por agora, a um total de €16 800.
O projeto tem inscrições abertas para acolher mais 25 artistas, que desta vez não serão convidados, mas escrutinados e selecionados pela Mistaker Maker. E Francis.co, o jovem, de Penafiel, que nos surpreendeu ao dizer que aceitou integrar o projeto sem saber “que ia ganhar algum”, afirma acreditar na bondade do #AllTheArtists como instrumento de “ajuda aos artistas e à cultura”. Ele que, por exemplo, viu ir por água abaixo todo o trabalho de design que estava a fazer para a edição deste ano do festival de música Ecos do Lima, em Ponte da Barca, obviamente cancelado. Conclusão: “Dói na carteira.”