À pergunta “como fazer máscaras em casa”, o Google devolve perto de 90 mil respostas. Passo a passo, multiplicam-se os vídeos a mostrar o que precisa para ser bem-sucedido. Tecidos de todas as cores apelam aos nossos sentidos para que a máscara não nos assente como uma mordaça. Afinal, basta ter pano – preferencialmente, de algodão e TNT, a sigla de Tecido Não Têxtil . E, pelos vistos o mais difícil nestes tempos, elásticos para segurar.
A moda já inundara a internet e confirmou-se agora, publicamente, às primeiras horas do primeiro dia desta nova fase de desconfinamento. É que foi à porta das lojas de tecidos e afins que se avistaram as maiores filas. “Abrimos há dois dias e, apesar de ainda não termos esgotamos o stock, a procura tem sido tanta que já fizemos nova encomenda”, atesta a funcionária de serviço na Tecidos Santo Condestável, em pleno bairro de Campo de Ourique. Por enquanto não há limites no momento da compra, mas…
“Tornou-se um item tão difícil de encontrar que já estou a usar outro tipo de elástico”, nota ainda Susana Farinha Amaral, 46 anos, que começou a fazer máscaras para oferecer aos amigos e vizinhos – e acabou a pô-las à venda para responder a tanto pedido que lhe chegava. É por isso que, agora, quem acede à Criar c’águlha, a página que, entretanto, criou, já não vê máscaras com o típico elástico roliço. “Desapareceu tudo”, segue a antiga contabilista que se rendeu à costura depois de, há dez anos, ter herdado a máquina de costura da mãe. “Até online tem estado esgotado”.
Essa é também a realidade na Companhia das Agulhas, no bairro azul, em Lisboa, que fechou as portas da rua quando as escolas foram encerradas – mas continuou a responder aos pedidos por encomenda. “É uma loucura”, confirma Joana, do outro lado da linha, num telefonema para a loja. “Em dois dias esgotamos o stock. E costumamos encomendar rolos de 500 metros.” O pior, remata, é que nem os fornecedores estão a conseguir dar resposta a tanto pedido.
No país e no mundo
Não é, note-se ainda, um fenómeno apenas nacional. Depois da corrida ao papel higiénico – a par do desinfetante para as mãos – chegou a vez dos elásticos. É o mais recente item a figurar na lista dos bens (quase…) essenciais – sobretudo desde que as autoridades, nacionais e internacionais, concordaram que o uso da máscara podia fazer a diferença.
Mas, além de lavar as mãos e manter a distância social, costurar uma máscara social que fique justa e possa ser lavada com frequência exige o uso de bom material para a segurar. Daí que, como sublinhava há dias a Phys.org – revista mais conhecida por divulgar estudos científicos – esta procura por elásticos seja já considerado o mais recente efeito inesperado provocado pela Covid-19.
“O nosso stock de elásticos esgotou num ápice”, confirmava àquela publicação Christine Baumbach, da Chicago Mask Makers, grupo que há mais de um mês começou a fazer material de proteção para doar às equipas de emergência naquela área dos EUA. “Estamos tão cientes da falta que já estamos mesmo a economizar ao máximo. Sabemos que os profissionais de saúde apreciam que seja confortável, sobretudo quando têm de usar máscara horas e horas seguidas.”