Temos uma juventude tomada pela inércia, mesmo em tempos de pandemia? Se a pergunta for feita à Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ), a resposta chega negativa, com veemência e numerosos exemplos comprovativos das iniciativas de solidariedade direta. A FNAJ diz que nestas ações estão envolvidas mais de 70 associações juvenis, que mobilizaram cerca de 680 voluntários.
Deão (Viana do Castelo), Valpaços (Vila Real), Tondela (Viseu). Estas são localidades exemplificativas da distribuição de alimentos e outros bens essenciais por idosos solitários e isolados. Mas, ali, a Associação Juvenil de Deão, a Associação Juvenil Eu+Tu=Muitos e a Associação Folclórica e Recreativa de Tourigo vão além da doação de bens. Também fazem companhia àqueles idosos, “através de contactos telefónicos e visitas domiciliárias regulares”, diz o presidente da FNAJ, Tiago Manuel Rego.
Quanto a outro grupo de risco ainda mais vulnerável, os sem-abrigo, a Casa Amiga de Felgueiras (Porto) presta apoio alimentar e cede material de proteção. Já a Associação Juvenil Casa da Gaia, em Argoncilhe (Aveiro), promove a recolha de mantas, cobertores, almofadas e lençóis que entrega à Proteção Civil, para que esta entidade os faça chegar a pessoas sem-abrigo.
As associações juvenis dizem ter sido pioneiras na entrega de material de proteção para os profissionais de saúde
Tiago Rego reivindica para as associações juvenis a criação de “linhas de recolha de fundos pioneiras para ceder material de proteção – viseiras, álcool e máscaras – a profissionais de saúde”. Exemplifica com a Associação Juvenil de Desporto e Natureza 100% Aventura, de Évora, e a Associação Juvenil Ethos Pathos Logos, da Póvoa de Varzim (Porto), que já entregaram “centenas de caixas” daquele material a hospitais, centros de saúde e Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Nestes dias de ensino à distância, a intervenção das associações também está no terreno. O apoio ao estudo em casa, diz o presidente da FNAJ, passa pelo “empréstimo de recursos tecnológicos a jovens carenciados para as aulas digitais”, pela disponibilidade para “imprimir e entregar fichas de trabalho” e pela realização de “sessões de estudo acompanhado por videochamadas”. É o que fazem, por exemplo, o Grupo de Jovens A Tulha, de Ílhavo (Aveiro), a Associação Juvenil Check In, de Beja, e a Associação Juvenil MOJU, de Olhão (Algarve).
Recentemente, a FNAJ lançou o projeto Liga-te, onde é feito o mapeamento das organizações juvenis a nível nacional com vista ao recrutamento de mais voluntários para as ações no terreno. Mas não só: através de uma parceria com a Ordem dos Psicólogos, o Liga-te também procura apoiar jovens que a pandemia deprimiu ou nos quais agravou esse estado pré-existente.
Pelos relatos que já chegaram, o presidente da FNAJ refere quadros depressivos causados por “desmotivação, cansaço, stresse, pressão social, medo, ansiedade, frustração e raiva”. O Liga-te tenta reverter o desânimo daqueles jovens “mantendo-os ativos, motivados e integrados, mediante formações e workshops online, dicas para atividades em casa e recomendações da Ordem dos Psicólogos”, diz Tiago Rego.
Para o pós-pandemia, a FNAJ prepara agora um documento estratégico destinado às suas associações, de forma a “responderem às novas necessidades, interesses e objetivos da juventude portuguesa”. Tiago Rego adianta já que “deve ser pensado o ensino pós-pandemia, deixando para trás a aborrecida e pouco dinâmica escola do antigamente”.