Sem fissuras. Sem cedências. Unidos.
Jornalistas, proprietários e distribuidores travam uma luta à margem da epidemia do coronavírus: a da sobrevivência e circulação das suas publicações numa época que, para todos os efeitos, é de “guerra”.
O problema já foi colocado ao Governo por João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, através dos ministérios da Economia, da Administração Interna e da secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media. Este dirigente do setor não tem dúvidas: Portugal deve adotar os exemplos de Itália, França e Espanha, países que restringiram movimentos e encerraram diversos comércios e atividades de forma drástica, mas mantiveram abertos quiosques e outros postos de venda de publicações.
Por cá, estudam-se alternativas para que a Imprensa em suporte papel possa chegar, por outras vias, às mãos de populações trancadas em casa. “Mais do que nunca, o jornalismo é um bem essencial”, assinala João Palmeiro. “Nestes momentos, não devemos ficar de rabo sentado. As pessoas, por razões de saúde pública e segurança, não querem naturalmente sair de casa. Em muitos casos, nem sequer poderão. Por isso, estamos a estudar com o Governo, entidades do setor e outros organismos postos de venda e de distribuição alternativos para jornais e revistas e assim enfrentar o eventual estado de emergência.”.
No entender do presidente da API, há indicações de que o Executivo de António Costa estará disponível para encontrar soluções nos próximos dias. “O próprio primeiro-ministro fez referência à importância do acesso a informação credível e à manutenção de locais de venda de publicações. As responsáveis pela área da Saúde também alertaram os portugueses para a necessidade de não estarem todo o tempo «agarrados» aos computadores e redes sociais, desafiando-os a procurar outras leituras. Falta encontrarmos formas de estar mais perto dos leitores nestes tempos difíceis. Sem limitar a circulação de publicações e dos próprios jornalistas, permitindo também acesso a informação por parte dos jornais regionais, que, estando próximos das populações, mas longe dos centros de decisão, lutam contra um muro de silêncio das entidades públicas”, explica.
Menos 450 postos de venda
A VASP manteve, desde o início da epidemia, toda a operação logística diária de distribuição de publicações e, para já, não existem restrições à entrega de imprensa no território nacional. “A comunicação social é vital em tempos de crise e estamos firmemente empenhados em garantir a distribuição diária na rede de pontos de venda que servimos”, garantiu à VISÃO, Pedro Proença, administrador da empresa. Dos 7241 postos de venda ativos, a maior distribuidora nacional recebeu, até segunda-feira, 16, a comunicação de que cerca de 450 pretendem encerrar temporariamente os seus estabelecimentos. “A movimentação das pessoas e os hábitos diários estão a ser fortemente alterados em consequência das medidas adotadas pelo Governo pelo que, também a rede de pontos de venda se está a ajustar à nova realidade”, refere aquele responsável.
De Itália e de Espanha chegam, ainda assim, sinais de resistência. “Não obstante as restrições impostas à circulação de pessoas e ao comércio, os pontos de venda de imprensa têm-se mantido, em grande parte, abertos, tal como outros estabelecimentos de serviços essenciais como sejam os supermercados e as farmácias”, refere Paulo Proença, atribuindo a procura nesses países a duas razões: “A necessidade de informação credível, que continua muito associada à imprensa escrita, e o maior tempo disponível para a leitura e entretenimento resultante da obrigação de permanência em casa de grande parte da população.”. Em Portugal, a evolução dependerá, no curto prazo, “das medidas que o Governo adote para evitar a propagação da epidemia e da disponibilidade dos pontos de venda para manterem os seus estabelecimentos em funcionamento”, conclui o administrador da VASP, sem iludir a carga de incerteza dos próximos dias.
Para a presidente do Sindicato dos Jornalistas, o jornalismo continua a ser um bem essencial, “mais ainda em tempo de crise.”. Sofia Branco olha também para os exemplos europeus e assinala a importância das decisões tomadas para os profissionais deste ofício e para quem os lê. “Precisamos, por isso, que os quiosques continuem abertos e que as pessoas comprem informação fidedigna e verificada por profissionais capacitados para a fornecer. Neste tempo de incerteza, os jornalistas estão, no cumprimento do seu dever de informar, a correr riscos. Saibam os cidadãos mostrar que vale a pena, comprando e consumindo a informação que eles produzem.”.