O novo coronavírus, identificado no início de janeiro, na China, parece preferir homens, com mais idade, sendo especialmente grave em pessoas com doenças crónicas. Esta é a conclusão de um estudo publicado na Revista Lancet que teve como base a análise 99 pessoas internadas no principal hospital dedicado a doenças infecciosas de Wuhan, na China, entre um e 20 de janeiro.
Ainda há muitas incógnitas em torno do novo vírus, identificado na China a 7 de janeiro, precisamente um mês depois de terem surgido os primeiros casos de uma pneumonia de origem desconhecida, na província de Hubei. Este trabalho agora publicado vem ajudar à compreensão do perfil do vírus que, tal como outros coronavírus, infeta diferentes animais, causando infeções respiratórias nos humanos. Boa parte dos infetados tinha uma forte relação ao mercado de Huanan, sendo vendedores ou gerentes
Na amostra analisada pelos investigadores e médicos chineses, que inclui os pacientes em estado mais grave, uma vez que houve necessidade de internamento, a mortalidade foi de 11 por cento e a idade média das vítimas 55,5 anos. Mais de metade dos pacientes – 67 homens e 32 mulheres – sofria de doenças crónicas, como sejam problemas cardiovasculares, patologia respiratória, diabetes ou tumores malignos.
Os sintomas mais frequentes no momento da admissão foram a febre e a tosse, seguidas de falta de ar, dores no corpo e dores de cabeça. “O coronavírus humano é um dos principais agentes causadores de infeção respiratória”, dizem os autores do trabalho, dando como exemplo os surtos de SARS, ou pneumonia atípica, em 2002-03, e de MERS, síndrome respiratória do Médio Oriente, em 2012.
Quanto à menor fragilidade do sexo feminino, também verificada naqueles surtos, especula-se que esteja relacionada com o cromossoma X e as hormonas sexuais femininas que têm um papel importante na imunidade.
Para Filipe Froes, pneumologista e consultor da Direção-Geral da Saúde, este trabalho agora publicado é “fundamental” para se compreender o que está em causa, sublinhando, no entanto, que a mortalidade estimada tem por base uma amostra de pacientes em estado grave. “Haverá casos não identificados na comunidade, sem sintomas e sem diagnóstico”, nota.
De acordo com o site de estatísticas em tempo real, World Meter, que cita dados da Organização Mundial de Saúde, a mortalidade pelo novo coronavírus, conhecido como 2019-nCoV, está nos dois por cento.
Apesar das semelhanças com outros vírus, esta infeção apresenta algumas características inesperadas como sejam a evolução da doença, que atinge o pico, em geral, ao fim de uma semana e o facto de, até agora, ser mais agressiva em pacientes chineses. “Poderá haver uma maior suscetibilidade genética da população asiática face à caucasiana para este tipo de infeções”, avança o médico.