Uma equipa de cientistas do Centro de Estudos Biológicos de Chizé, em França, e da Universidade de Liverpool, Reino Unido, equipou três colónias de 169 albatrozes, habitantes de ilhas do sul do Oceano Índico, com pequenos detetores de radar, GPS e uma antena para transmitir os dados por satélite. O objetivo? Tentar cumprir aquela que parece ser uma das tarefas mais complicadas para as autoridades marítimas – detetar atividades piscatórias ilícitas.
A equipa envolvida no projeto entendia que eram necessárias novas abordagens tecnológicas para combater os potenciais danos da pesca ilegal nos oceanos. A estratégia passou, então, por equipar albatrozes com a melhor tecnologia de rastreamento. Compreende-se a decisão da equipa de eleger os animais como cobaias – a espécie tem a maior envergadura de asas de todo o reino animal, é capaz de voar grandes distâncias e tem uma particular atração por navios de pesca.
Durante seis meses, as aves marinhas encontraram 353 navios, e a localização de cada um foi transmitida a um laboratório em menos de 2 horas. Apenas 253 dos barcos tinham Automatic Identification System (AIS), um sistema de rastreamento exigido pela Organização Marítima Internacional, que transmite a identidade, posição, curso, velocidade e outras informações sobre embarcações. Ou seja, cem navios, o equivalente a 28% das embarcações encontradas, ficaram em “silêncio”, invísiveis, mas não para os “novos sentinelas do oceano”, nome dado pelos autores do estudo publicado na revista científica da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
Henri Weimerskirch, ecologista marinho no Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, e principal autor do estudo, disse ao jornal The New York Times, que estas embarcações estariam provavelmente a pescar sem licença ou então a transferir capturas para embarcações de carga. Esta nova abordagem pode ajudar diferentes países no combate à pesca ilegal, – uma atividade com um custo global de 23 mil milhões de dólares – visto que as observações detetadas pelas aves podem ser descarregadas em tempo real.
A probabilidade de as aves serem feridas durante este processo era muito baixa. Os tripulantes das embarcações teriam muito dificuldade em abater os animais, não só devido ao mar agitado do sul do Oceano Índico, mas também porque os albatrozes voam muitos metros acima do nível do mar, disse Weimerskirch ao mesmo jornal. O investigador e a sua equipa planeiam experiências semelhantes na Nova Zelândia, Havai e na Geórgia do Sul – uma ilha no sul do Atlântico -, assim como utilizar outras diferentes espécies como “vigilantes”.