“Silere non possum! Não posso ficar calado!” Citando Santo Agostinho, o Papa emérito Bento XVI e Robert Sarah, ambos autores do livro Do Fundo dos Nossos Corações, de que este domingo, 12, o jornal francês Le Figaro publicou um excerto, quiseram revelar ao mundo o seu ponto de vista sobre o celibato sacerdotal – que, sem surpresas, vai contra a abertura ao debate sobre o tema, demonstrada pelo atual Papa.
“É urgente e necessário que todos – bispos, padres e leigos – parem de se deixar intimidar pelos apelos mal direcionados, pelas produções teatrais, pelas mentiras diabólicas e pelos erros da moda que tentam derrubar o celibato sacerdotal”, lê-se. O celibato, que se tornou uma tradição da igreja há cerca de mil anos, “tem um grande significado” porque permite aos padres concentrarem-se na sua vocação. Para Bento XVI, “não parece possível realizar ambas as vocações [sacerdócio e matrimónio] simultaneamente”. É “indispensável para que o nosso caminho na direção de Deus permaneça o fundamento da nossa vida”, defende Bento XVI.
Há sete anos, quando Joseph Ratzinger renunciou, invocando problemas de saúde – tornando-se o primeiro pontífice a abdicar em quase seis séculos – prometeu ficar “escondido do mundo”. Mas tal não tem acontecido. Desde então, o Papa emérito de 92 anos, que ainda mora dentro dos muros do Vaticano num antigo mosteiro, tem pronunciado as suas opiniões, bem diferentes da atual visão mais progressista do Papa Francisco.
A controvérsia surge porque para muitos, o celibato é uma parte essencial de ser um padre católico. Um padre deve ser casado com Deus e não se distrair com o que alguns consideram preocupações mundanas, como a mulher ou a família.
Com 1,3 mil milhões de fiéis, a Igreja Católica e o Papa Francisco em particular têm em mãos a análise da eventual possibilidade do ordenamento de padres casados na Amazónia. Em outubro de 2019, um grupo de 180 bispos católicos de nove países da Amazónia apresentou uma proposta para que homens mais velhos casados, que já sejam diáconos da igreja, tenham uma relação familiar estável e sejam líderes comunitários, possam ser ordenados padres depois de uma formação adequada. Com o apoio dos bispos sul-americanos, esta poderia ser uma solução para a falta de padres em áreas isoladas. Saberemos a decisão sobre o assunto nos próximos meses.