E se o pecado original de Adão e Eva não fosse comer o fruto da árvore proibida, mas simplesmente colhê-lo? Essa versão da parábola bíblica faria sentido pelo menos para um grupo restrito de vegans, para quem a atitude correta seria esperar que a maçã caísse no chão, para depois então comê-la. Só assim não se rompe o fluxo de vida do fruto, entendem os frutarianos, que não comem vegetais e tubérculos, pela violência infligida às plantas no momento em que são cortadas ou arrancadas.
Nesta corrente, a vida de uma vaca é equiparada à de uma batata. Se os vegans recusam comer ou usar produtos de origem animal, os frutarianos recusam comer alimentos a que se tenha retirado a vida. Com crescente popularidade em Inglaterra, por exemplo, são também designados “windfall vegans”, ou seja, aqueles que comem apenas o que cai com o vento.
Um dos mais conhecidos adeptos desta forma de alimentação foi Steve Jobs, fundador da Apple, e muitos se recordarão da cena, em Nothing Hill, em que Hugh Grant janta com uma frutariana que recusa as cenouras que ele lhe oferece, pois foram “assassinadas”.
Apesar de ser um regime seguido por um grupo muito restrito de vegans (é considerado um subgrupo dos “raw vegans”, que só comem frutas e vegetais crus), tem vindo a ganhar popularidade neste milénio – e estudos como o revelado no mês passado, indicando que as plantas “guincham” quando são cortadas ou têm sede, estão a reforçá-lo entre as gerações mais jovens.
Esta noção de “sofrimento” das plantas foi descrita há mais de 2500 anos na Índia, no Jainismo. Os jainas entendem que pessoas, animais, plantas, rochas e cursos de água têm jiva, ou seja alma ou princípio vital. Todos estes seres têm igual valor e estão interligados em termos kármicos.
Guiados pela prática da não-violência, é usual ver os jainas caminhando com uma vassoura, que usam para varrer o chão antes de o pisar, tentando afastar insectos ou outros animais que possam morrer à sua passagem, pois a violência é tanto a agressão intencional como a não intencional.
A agressão deve por isso ser evitada em todas as suas formas, ações, palavras ou pensamentos, e a todo e qualquer ser vivo, pois todos os atos de violência praticados vão ficando acumulados em nós, como mau karma – seja matar um mosquito ou comer uma cebola.