Um novo passo de gigante para a Humanidade: assim poderá ser descrita a entrada, pela primeira vez, de uma sonda espacial na coroa solar (o halo de luz branca que vemos à volta do Sol durante eclipses totais). A Parker, lançada pela NASA em agosto de 2018, fez já três passagens à volta do Sol, esperando-se que possa completar 24 voltas nos próximos meses, caso resista às temperaturas de milhares de graus Celsius, ao impacto de violentos campos magnéticos e à força esmagadora dos ventos solares.
Mesmo que deixasse de comunicar amanhã, a Parker já tinha o seu lugar na história assegurado. Nunca nenhuma sonda chegou tão perto do Sol, passando a cromosfera, entrando na zona da coroa e da heliosfera. Neste momento, já está além de Mercúrio, mas poderá aproximar-se ainda mais da superfície.
Em Terra, os cientistas ficaram a compreender melhor alguns fenómenos só com os primeiros dados enviados. Na quarta-feira, 4 de dezembro, foram publicados quatro estudos diferentes na revista Nature.
“Estas informações recolhidas pela Parker revelam a nossa estrela de formas novas e surpreendentes”, disse Thomas Zurbuchen, um dos diretores deste programa espacial, na sede da NASA, em Washington. A equipa de cientistas que lidera ficou surpreendida sobretudo com a força dos ventos solares medidos, a velocidades que podem atingir os 150 km por segundo ou, em medidas mais terrenas, 540 000 km por hora.
Embora o Sol possa parecer uma estrela tranquila quando a observamos a partir da Terra, nada poderia estar mais longe da verdade. Ativo há 5 mil milhões de anos, influenciando toda a vida na Terra e o equilíbrio dos outros planetas do nosso sistema solar, o Sol é um astro que fervilha com constantes e poderosas explosões, dilúvios de partículas que se movimentam quase à velocidade da luz e nuvens de milhares de milhões de toneladas de poeiras magnetizadas.
Toda esta atividade lança em permanência partículas para o espaço, onde os satélites e os astronautas circulam, interrompendo as comunicações e os sinais de navegação. Na Terra podem também provocar falhas gerais no abastecimento de energia elétrica, por exemplo.
“Observar o Sol assim tão de perto está a dar-nos uma visão sem precedentes de importantes fenómenos solares e a compreensão de como estes afetam a Terra. É o início de uma nova Era incrivelmente emocionante para a heliofísica, com a Parker na vanguarda de novas descobertas”, concluiu Zurbuchen.