Quando as mulheres decidem, por vários motivos, tomar a pílula seguida durante algum tempo surge, muitas vezes, a dúvida sobre a possibilidade de a interrupção da menstruação ser prejudicial à saúde. “Existe esse mito, de que as mulheres têm de menstruar por uma questão de saúde. Mas não. Não faz falta nenhuma”, explica à VISÃO Osvaldo Moutinho, Diretor do Serviço de Ginecologia-Obstetrícia do Centro Hospitalar de Trás-Os-Montes e Alto Douro.
Existem, pelo contrário, várias vantagens, mesmo terapêuticas, associadas à toma seguida da pílula, desde que sejam respeitadas as contraindicações do medicamento em questão, afirma o médico. Uma delas é a diminuição das dismenorreias, ou seja, das cólicas menstruais, que antecedem ou coincidem com o início de cada período menstrual, a diminuição da perda hemática e, consequentemente, a menor probabilidade do aparecimento de anemias.
“Além disso, o uso contínuo da pílula reduz o risco do aparecimento de quistos funcionais ováricos e de hiperplasia do endométrio”, que acontece quando existe proliferação excessiva das células do endométrio, a camada mais interna do útero. “Algumas pílulas, principalmente as que têm na sua composição o fármaco dienogeste, também diminuem o aparecimento da acne, da queda de cabelo e do hirsutismo (crescimento excessivo de pelos terminais na mulher, em áreas caraterísticas dos homens)”, esclarece Osvaldo Moutinho.
Em relação à diversidade das pílulas, a maioria delas pode ser tomada de forma contínua, tanto as combinadas – as que resultam da combinação de duas hormonas, o estrogénio e o progestagénio -, como as que têm apenas progestativo na sua constituição. Já as pílulas trifásicas, que contêm diferentes quantidades de estrogénio e progestagénio em três fases distintas do mês, não devem ser tomadas de forma seguida por poderem provocar spotting, perdas de sangue que ocorrem fora da época do fluxo menstrual, mas também porque a sua eficácia pode diminuir. “As pílulas que contêm acetato de ciproterona e as de dosagem mais elevada não devem ser tomadas de forma contínua, por estarem associadas a mais efeitos colaterais”, explica o ginecologista.
Os anéis vaginais também podem ser usados de forma contínua, com a grande vantagem de provocarem menor metabolização hepática, tornando-se menos agressivo para o fígado, esclarece.
Isto é válido para todas as mulheres?
De acordo com Osvaldo Moutinho, qualquer mulher pode tomar a pílula contínua, desde que tenha em conta as contraindicações clássicas do contracetivo.
“As mulheres que têm antecedentes de tromboembolismo venoso, de acidentes vasculares, de doença oncológica hormono-dependente ou de doença cardíaca associada a risco tromboembólico devem dar preferência ao uso da pílula só com progestativo”, aconselha o médico. Também as que amamentam, as que estão na perimenopausa, as que necessitam de tratamento para algumas formas de endometriose e aquelas em que lhes seja contraindicado o uso de estrogénios também devem tomar continuamente apenas este tipo de pílula.
O que se deve ter em conta
É importante que a pílula (contínua ou não) seja tomada sempre à mesma hora, com uma diferença máxima de duas horas de uns dias para os outros. Em relação às mulheres em que a pílula contínua está associada a spotting, é aconselhada uma pausa de três em três meses.
Existem, também, algumas formulações da pílula que têm 28 comprimidos na embalagem, sendo que os últimos quatro possuem uma cor diferente e funcionam como placebos, ou seja, não têm qualquer conteúdo hormonal. “Se pretendermos que estas pílulas sejam administradas de forma contínua, estes quatro comprimidos devem ser ignorados”, remata Osvaldo Moutinho.