“Se houvesse razoabilidade, era uma questão de tempo até o Michel Mayor ser galardoado com o prémio Nobel”, diz à VISÃO o astrónomo Nuno Cardoso Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), minutos depois de terem sido anunciados os vencedores deste ano.
Na edição de 2019 a Academia Sueca distinguiu a cosmologia – Jim Peebles – e a descoberta de exoplanetas (que giram em torno de uma estrela que não é o nosso Sol) – Michel Mayor e Didier Queloz.
Nuno Cardoso Santos trabalhou de perto com Michel Mayor, seu orientador de doutoramento, e sublinha as características “excepcionais, quer a nível científico, quer a nível humano.” Em 1995, na altura em que foi anunciada a descoberta do primeiro exo-planeta, poucos acreditaram nos cálculos de Michel Mayor. Mas o cientista não desistiu e é também esta persistência que hoje se premeia.
Usando o método conhecido entre os astrónomos como o das velocidades radiais, Michel Mayor e Didier Queloz estimaram que a alteração na velocidade de uma estrela era resultado de uma interferência que só poderia ser causada por um planeta. Para detetar a mudança de velocidade os astrónomos serviram-se do efeito Doppler – um efeito da Física que se regista relativamente a um observador durante o movimento de ondas, como são o som ou a luz. Uma consequência disso é, por exemplo, a variação no tom da sirene de uma ambulância – mais agudo quando o veículo se aproxima de nós, mais grave quando se começa a afastar.
“Ele ousou acreditar que a única explicação para aquela variação detetada na velocidade da estrela era a existência de um planeta”, refere o astrónomo do IA. “Hoje a área dos exoplanetas é das mais quentes dentro da astronomia”, diz Nuno Cardoso Santos que já tem no currículo a descoberta de algumas dezenas de planetas fora do nosso sistema solar.
Além de ter feito esta descoberta, Michel Mayor também participou no desenvolvimento de um instrumento usado nas medições. “É um pioneiro, com uma grande visão estratégica”, sublinha Nuno Cardoso Santos, que admite sentir que este prémio também é “um bocadinho” seu.
A segunda metade do Nobel foi para Jim Peebles, que contribuiu para o estudo da matéria negra, que representará 85% da matéria do Universo, e para a análise da radiação cósmica de fundo, a radiação eletromagnética que vem do início dos tempos.
Em comunicado logo a seguir ao anúncio, o cosmólogo incentivou os jovens cientistas a perseguirem o caminho da investigação por amor à Ciência e não a pensar em prémios ou honrarias.