Há dias em que o mundo parece estar contra nós. De certeza que algo deste género passou pela cabeça do surfista brasileiro nos últimos dias. Mas Italo Ferreira, 25 anos, uma referência atual do surf brasileiro, superou todas as adversidades e mais algumas para entrar na água e vencer o heat que o deixa mais perto de um lugar nos Jogos Olímpicos de 2020.
A história, a incrível história é contada pelo próprio, num texto publicado esta quarta-feira, no seu Instagram:
“Fui roubado 4 dias atrás, nos Estados Unidos. Na minha mochila, que eles levaram, tinha alguns pertences pessoais e o documento mais importante para uma pessoa que está viajando e nem sabe falar perfeitamente a língua local: o passaporte. Este era eu. Sem saber pra onde ir, sendo que no mesmo dia eu tinha um voo marcado para o Japão para competir em um evento mundial essencial na busca por uma vaga nas olimpíadas de 2020, em Tokyo”.
“No dia seguinte ao roubo, tive ajuda de algumas pessoas do Brasil, Estados Unidos e até mesmo do Japão. (…) Todas as informações diziam que o melhor era eu sair dos Estados Unidos para refazer tudo (marcar horário, agendar entrevista, etc) no consulado americano. Então saí dos Estados Unidos no dia 08 de setembro e embarquei para Tokyo, com entrevista marcada para o dia seguinte, 09.”
“Parecia tudo normal, mas MEU VOO ATRASOU POR CAUSA DE UM FURACÃO – inclusive, fiquei 18 horas dentro do avião. Ou seja, eu não teria como chegar a tempo para a entrevista no consulado no Japão. Então remarquei para as 8:30 do dia 10 de setembro, primeiro dia da competição, sem ter certeza de que o visto seria aprovado.”
“Eu estava confiante e feliz, mesmo depois de tudo, só por ter chegado até o Japão. O visto foi aprovado, deixei meu passporte no consulado americano e comecei mais uma missão. Fui correndo para o Aeroporto de Tóquio em busca do primeiro voo para a cidade onde eu iria competir. Minha bateria era a 6ª do Round 1, mas o evento atrasou 1 hora e isso me deu uma pequena chance de chegar a ‘tempo’. Quando pousei no aeroporto, saí correndo: larguei as malas e fui direto para o carro do comitê brasileiro que estava a minha espera. Minha bateria já tinha começado e demoramos 10 minutos do aeroporto até a praia.”
“Chegando no palanque, faltavam 9 minutos pra minha bateria acabar. Entrei na água com a última prioridade, prancha emprestada e precisando de uma combinação de 12 pontos pra avançar.”
O melhor? É uma história com um final feliz. Italo entrou dentro de água com calções de ganga e prancha emprestada por Filipe Toledo (também ele surfista profissional brasileiro) e venceu o heat com 13,46 pontos, consumando a vitória com um aéreo e deixando o argentino Leandro Usuna em segundo lugar e Dylan Southworth em terceiro.
O brasileiro segue em frente na ISA World Surfing Games, uma competição mundial organizada pela Internacional Surfing Association, que apesar de não fazer parte do circuito mundial da WSL, do qual habitualmente ouvimos falar, não deixa de ser um evento obrigatório para os atletas com pretensões de ir aos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.
Italo Ferreira quer um lugar no primeiro ano em que o surf faz parte dos Jogos Olímpicos. As vagas para o evento são preenchidas com os atletas mais bem posicionados do circuito mundial de surf da WSL, mas também com os vencedores desta competição da ISA. Na sua mensagem, o surfista explicou que “mesmo sendo um campeonato que não ‘vale’ pra classificação das olimpíadas, pelo fato de eu estar buscando minha classificação pelo ranking da WSL. Eu tinha de estar no Japão senão perdia a chance e poderia me tornar ilegível à vaga”.