Com 100 mil anos-luz de diâmetro e centenas de milhares de milhões de estrelas (entre os 100 e os 400 mil milhões) e, pelo menos 100 mil milhões de planetas, a galáxia que nos serve lar tem uma forma espiral – isto sabe-se desde os anos 50 – e um coração ondulado e distorcido.
Um grupo de cientistas que integram um projeto astronómico polaco (OGLE na sigla de Optical Gravitational Lensing Experiment) conseguiu um “mapa” da Via Láctea com um detalhe sem precedentes. Esta nova imagem 3D do disco galáctico, a região central da galáxia, onde estão as estrelas maiores e mais brilhantes, resulta da análise de mais de 2 mil estrelas pulsares gigantes.Observações anteriores já tinham deixado no ar esta possibilidade de o coração da Via Láctea ser torcido e deformado, mas este novo mapa é pioneiro na confirmação desta característica.
A imagem que temos atualmente da nossa galáxia resulta do trabalho progressivamente melhorado de décadas de observações e simulações de computador. Ao Live Science, a principal autora do estudo, Dorota Skowron, explica que no final do século XX, as análises disponíveis já deixavam perceber os braços espiralados da Via Láctea, mas com dúvidas sobre o seu número. “A nossa reconstrução da história da formação das estrelas mostra que a estrutura em espiral com quatro braços é consistente com o que vemos”, explica.
Para construir este novo mapa, a equipa usou dados de mais de 2.400 estrelas supergigantes relativamente novas (com menos de 300 milhões de anos) e até 10 mil vezes mais quentes do que o nosso Sol – as Cefeidas. Estas estrelas têm um pulsar regular que permite aos cientistas determinar o seu brilho e calcular a sua distância direta com uma precisão altíssma.
Uma vez determinada a posição destas estrelas – algumas na fronteira do disco galáctico – foi possível construir este mapa do centro da galáxia.
“Esta é a primeira vez que conseguimos usar objetos individuais para determinar a sua forma em três dimensões”, acrescenta Przemek Mróz, também da equipa do OGLE, em comunicado.
Quanto à deformação, explica o estudo publicado esta semana na Science, esta pode ter sido causada por interações no passado com galáxias satélite, com gás intergaláctico ou com matéria escura”.