Foram oito dias em viagem. Ao aproximarem-se daquele satélite que há tanto tempo exercia tamanho fascínio sobre a humanidade, contam que sentiram um cheiro a cinzas molhadas na lareira. O trio de homens que arriscou aquela passagem, prometida desde o início da década e do discurso mítico de John F. Kennedy, haveria de regressar como heróis de carne e osso. A passagem de lá para cá e de cá para lá repetir-se-ia ainda durante três anos – mas, em 1972, Eugene Cernan tornava-se o último comandante de uma missão tripulada à Lua.
Agora, 50 anos depois desse momento que o planeta acompanhou pela televisão, prepara-se uma festa à escala mundial. Com toda a pompa e circunstância. Um dos momentos mais esperados é o lançamento de um novo vídeo de Space Oddity, música de David Bowie dedicada à odisseia espacial e que agora também está a celebrar a meia centena de anos. Mas desde os primórdios da civilização que o astro tem a maior das influências nas nossas vidas.
A Lua dos mitos
Acredita-se que, na pré-história, o homem prestava culto a uma deusa representada pela lua. Mais tarde, tanto a mitologia grega como romana teve a sua deusa lunar – chamasse-se Selena ou Artemis. Além do peso na astrologia, no imaginário popular também é comum encontrar quem relacione as fases da lua com a menstruação, a loucura ou o crescimento do cabelo. Mas o maior mito é o que diz que ‘O homem nunca foi à lua’ e que tudo não passou de uma farsa.
A Lua do universo infantil
É, sem dúvida, uma musa imbatível das mais variadas histórias de fantasia. Se na literatura, no cinema, nos sonhos e na tradição oral, ela é uma presença encantada mágica – no reino das crianças é ainda mais. Não por acaso, em muitos desenhos animados, ela aparece em forma de queijo, associação que é feita desde, pelo menos, o século XVI. Tanto o cãozinho Snoopy como o intrépido repórter Tintim já “estiveram” na Lua. No universo da Marvel, existe ainda a figura do Vigia, ser que habita a Lua, de onde tudo observa, sob o juramento de jamais interferir.
A Lua da ficção científica
A Lua foi também o cenário escolhido por excelência por uma série de autores da melhor ficção científica – de Júlio Verne a Isaac Asimov, de H.G.Wells a Arthur C. Clarke. E tanta imaginação futurista produziu ainda outros clássicos como Viagem à Lua, de Georges Méliès, um original de 1902, o primeiro filme do género também a incluir alienígenas, com recursos inovadores da animação e efeitos especiais, como a famosa cena da nave a pousar no “Homem da lua”.
A Lua das histórias de terror
É na Lua Cheia que o lobisomem se revela, além de uma outra série de fenómenos sobrenaturais. É nas Super-Luas que aumenta o risco de tsunamis. Os loucos são apelidados de lunáticos – porque se julgam que o estado anímico piora com a Lua. Em geral, durante a Lua Cheia há mais criminalidade violenta. Nada que a ciência possa comprovar. Mas não esquecemos nunca aquele momento do vídeo de Thriller, o maior êxito musical de Michael Jackson, em que o cantor se transforma numa fera perigosa quando a lua surge no céu.
A lua inspiradora
Incontáveis histórias de amor começam com a Lua – e a arte sempre imitou a vida. Em poemas e músicas, em filmes e afins. A lista é deveras impressionante: de Fly me to the moon, imortalizado na voz de Frank Sinatra, com uma dedicatória ao feito desse ano de 1969, a Man on the Moon, dos R.E.M. No cinema, é histórica a cena de E.T. em que a bicicleta voa com a Lua em fundo.
E as mulheres que fizeram a diferença na ida à lua
Na senda da saga de Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Johnson, as três primeiras engenheiras negras da NASA, a quem a agência acaba de prestar homenagem – cujo trabalho seria imprescindível para colocar em órbita o primeiro astronauta americano, John Glenn, em 1962 – no final da década, a honra caberia a JoAnn Morgan, de 28 anos, a única mulher a trabalhar como controlador de instrumentação para a missão e permitida na sala onde decorreu a descolagem histórica da Apollo 11, quatro dias antes da alunagem. Um dos grandes desafios que teve de ultrapassar, como única mulher num edifício de homens, foi a falta de uma casa de banho para mulheres – e alguns telefonemas obscenos.
“Mas nunca me deixei sentir como um objeto”, contou JoAnn, hoje com 78 anos, há poucos dias à CNN – depois de confessar que sempre preferiu fazer experiências químicas a brincar com bonecas. Uma carreira que também descolou na NASA depois da Apollo 11: foi a primeira executiva sénior do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral.