Daenerys Targaryen, interpretada por Emilia Clarke, pronuncia algumas das falas mais emblemáticas da série Game of Thrones. Uma das suas expressões mais conhecidas é “Dracarys!”, que significa “fogo de dragão” em valiriano e é utilizada como palavra de comando para os seus dragões cuspirem fogo. A expressão faz parte de uma língua ficcional inventada por George R. R. Martin nos livros da saga.
Contudo, os produtores da série entenderam que as poucas frases inventadas pelo autor dos livros não eram suficientes e sentiram necessidade de ter uma língua inteira com um vasto vocabulário, regras de gramática e até expressões culturais. Decidiram, então, lançar um desafio online para criação da língua Dothraki falada pela tribo de Khal Drogo. Um dos participantes foi David J. Peterson, um experiente autor de diversas línguas ficcionais (já criou mais de 50), como é o caso de Shiväisith do filme “Thor: O Mundo das Trevas” e Trigedasleng da série “The 100”.
À CNN, Peterson confessou que dedicava “todos os minutos do seu dia de trabalho”, de por vezes 18 horas, para criar 300 páginas de vocabulário, expressões culturais e regras gramaticais. Num mês, estava criado o Dothraki. Venceu a competição e ainda convidado para criar também a famosa linguagem de Daenerys – o Valiriano.
Hoje em dia, a língua Dothraki conta com 4 mil palavras e as Línguas Valirianas com cerca de 2 mil. A app Duolingo, uma das mais utilizadas pelo mundo para a aprendizagem de línguas, com cerca de 300 milhões de utilizadores, decidiu incluir o valiriano na lista de opções disponíveis, uma aposta de sucesso, uma vez que 1,2 milhões já começaram o curso. Existem ainda, muitas outras aplicações dedicadas somente à aprendizagem de Dothraki ou Valiriano, entre elas, a “Dothraki Companion”, desenvolvida pelo próprio David J. Peterson e disponível em Portugal na Apple Store por cerca de 4,50 euros.
Mas, afinal, como funciona isto de criar uma língua? Segundo o autor, primeiro começa-se pela gramática, o que é mais complicado do que simplesmente pensar nuns sons porque eles têm de encaixar bem entre si para ser possível formular palavras mas, depois de reunir algum vocabulário mais básico, “é possível geral, manualmente ou com recurso a um programa, um número infinito de palavras”.
Atualmente, Peterson trabalha em parceria com a série, desenvolvendo áudios para todas as falas das personagens em Dothraki ou Valiriano, de modo que os atores tenham um modelo em que se basear. Para além disso, publicou o livro Living Language Dothraki que, apesar de não ter tradução para português, está esgotado por cá.
O autor dos idiomas admite que “estudar uma língua ficcional que ninguém fala”, não vai ajudar ninguém a comunicar mas acredita que, pelo menos, irá melhorar a capacidade para aprender novas línguas, pois, aciona essa parte do cérebro: “quanto mais línguas se estudar, mais fácil será aprender uma.”