O champanhe e as flores à chegada já não têm o mesmo encanto – estão muito vistos e ao alcance de demasiadas bolsas. Na praia, no deserto, na selva ou na neve, os hotéis continuam a seduzir com outras mordomias, mas deixaram de ser tão distintivos – pelo preço certo, qualquer cliente mais abastado os reserva. O que agora marca a diferença no turismo de luxo são as experiências exclusivas, concebidas a pedido e inacessíveis ao comum dos mortais. Quanto mais invulgares, melhor.
Adotar este modo de vida, durante meses e até anos consecutivos, está cada vez mais em voga entre milionários, sedentos por explorar o mundo, nas calmas, atrás de aventuras inesquecíveis, de preferência nunca vividas pelos seus pares. Não são férias de trabalho, mas pausas sabáticas, a maior parte em família.
Nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, o sucesso do negócio é assinalado pelo crescimento de empresas que, nos últimos anos, em resposta a esta tendência entre os mais ricos, se dedicaram a satisfazer-lhes os mais diversos caprichos – tanto podem incluir mergulho na Grande Barreira de Coral, ao largo da Austrália, guiados por um cientista, como voar num balão de ar quente, com vista privilegiada sobre a grande migração de gnus, girafas, zebras e gazelas, entre a Tanzânia e o Quénia.
Fronteiras não erguem muros, e a imaginação do cliente é o limite: viver como um monge num mosteiro isolado na Ásia pode ser tão enriquecedor como aprender a caçar com uma tribo ancestral em África, da mesma forma que almoçar numa enseada acessível só por barco, desfrutar de uma praia cuja areia foi coberta por uma carpete, para não se sujar os pés, e pernoitar dentro de uma bolha transparente nos confins da Islândia são desejos já concretizados.
A britânica Original Travel organizou recentemente uma viagem sabática para um multimilionário londrino, após ter vendido a sua firma tecnológica. Ao longo de dois anos, ele, a mulher e os filhos percorreram 66 países, à boleia do jato particular da família. Por mais de um milhão de euros, conviveram com indígenas no México e no Botswana, esquiaram nas proximidades do Polo Sul, sobrevoaram de helicóptero os leopardos-das-neves, nas montanhas da Índia, e nadaram ao lado de tubarões na África do Sul, durante o fenómeno de migração conhecido por “corrida das sardinhas”, com direito a filmagem profissional subaquática para mais tarde recordar.
Como nos filmes de Hollywood
Várias destas empresas especializadas em proporcionar experiências por encomenda funcionam como clubes privados, cujos membros pagam uma anuidade para acederem a certas regalias. A mais comum é beneficiarem de um dedicado gestor de viagem, disponível 24 horas por dia e sete dias por semana, para os atender em caso de imprevisto ou de pedidos de última hora.
A Quintessentially, com escritórios em mais de 60 países, trabalha nesse regime, cobrando em média €20 mil por serviço, embora os mais caros se aproximem dos 150 mil euros. Madonna, J.K. Rowling e Richard Branson são apontados como clientes, ainda que sem confirmação oficial. O lema da empresa é concretizar desejos de todo o género, “em qualquer lugar e a qualquer hora”, sejam eles providenciar um pedido de casamento visualizado nos ecrãs da Times Square, em Nova Iorque, ou observar de perto gorilas-das-montanhas, uma espécie ameaçada que sobrevive entre o Ruanda, o Uganda e a República Democrática do Congo.
A influência do cinema também se faz notar. Já houve quem solicitasse ser deixado numa ilha deserta, qual Tom Hanks em O Náufrago, e quem pagasse para recriar uma perseguição de automóvel a alta velocidade sobre o gelo, à imagem de James Bond em Morre Noutro Dia. Ou não estivessem magnatas de Hollywood entre os maiores fãs das pausas sabáticas, ao lado de empreendedores tecnológicos e de homens da alta finança.
“Eles querem ir a algum lugar ou fazer algo que mais ninguém fez no seu círculo próximo”, sublinha David Prior, na edição de janeiro da Vogue australiana. O fundador da norte-americana Prior, outra empresa pensada para oferecer experiências diferenciadas a uma elite com grande poder de compra, acrescenta que hoje “já não se viaja apenas por prazer – passou a ser algo que também reforça o estatuto”.
Com sorte, há quem apanhe boleia e ainda seja pago por isso. Professores e amas, por exemplo, são frequentemente requisitados por casais que partem com filhos pequenos. Em dezembro, uma oferta de trabalho para um fotógrafo profissional destacou-se no site Perfocal, dedicado a esse negócio. Uma família prepara-se para iniciar, em fevereiro, uma viagem de um ano pelo mundo e oferece um salário de €92 mil para ser fotografada em momentos como o Carnaval de Nova Orleães, o Grande Prémio de Fórmula 1, em Abu Dhabi, ou numa simples atividade de mergulho nas Maldivas. Dão bons retratos, seguramente.