Mais um ano, mais rankings, poucas alterações nos resultados. Foi há 18 anos que, em nome da transparência na Educação, se exigiu à tutela a divulgação das notas dos exames a nível nacional, e passámos a ter escolas ordenadas consoante os resultados dos seus alunos.
Houve então um momento inicial de euforia, ao estilo “a minha escola é melhor do que a tua”. Fizeram-se vários comparativos, várias listagens, cada uma a explicar porque optara por uma determinada ordem em detrimento de outra. Até que começaram a surgir aqui e ali críticas ao formato, primeiro mais veladas, depois mais assumidas.
Aquilo que era a última moda em 2001 revelava, afinal, bastantes limitações e efeitos perversos, segundo esses críticos. O que aconteceu, dezoito anos depois, parece longe do então esperado: a melhoria contínua, e efetiva, de todas escolas.
Os diretores repetem-no: dizer que a melhor escola do país é a que tem melhores resultados nos exames é um engodo. “Isto é um ranking de exames, não de escolas”, sublinha Filinto Lima, da associação de diretores.
Nem quem faz trabalho científico lhes reconhece impacto positivo: num artigo de opinião, dois investigadores do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto e da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto garantem que, depois de analisarem o que havia sobre o assunto, não encontraram nada que o indique.
O Ministério da Educação também concorda, seja pela voz do secretário de Estado da Educação, João Costa – “Tenho dito várias vezes que os rankings não dizem rigorosamente nada sobre a qualidade da escola”, repetiu este fim de semana; ou pela do próprio ministro, Tiago Brandão Rodrigues – “Disse já que não era adepto destas listas e continuo a manter a minha opinião porque sei que o bom trabalho que se faz nas escolas vai muito além disso”, afirmou igualmente este governante.
Por tudo isto, a tutela anunciou o lançamento de um indicador do percurso de sucesso. Em nome de uma melhor avaliação externa, determinou-se que a inclusão vai passar a ser um valor chave do que é uma escola de qualidade. Mas a listagem, como sempre a conhecemos, mantém-se.
Ao mesmo tempo que, este fim de semana, se lançaram os vários resultados das escolas à consideração da opinião pública, a Lusa assinalava que há mais escolas a inflacionar as notas dos alunos – e que entre elas estavam três colégios do Top 10 do ranking geral. Além disso, revelava que as inspeções no terreno não estavam a conseguir evitar que haja escolas há dez anos a inflacionar notas.
Para os professores, então, é mais uma arma de arremesso. No ano passado, Alexandre Henriques, professor do blogue Com Regras, escrevia que “os rankings são imagem, os rankings são ego, os rankings são humilhação, os rankings são uma parte ínfima da realidade”.
Do lado de quem defende o ranking das escolas, na sua versão tradicional, destaca-se a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP). “O ranking faz muito pelo sistema. Quem trabalha com as escolas, e eu trabalho também com a escolas públicas em vários projetos, sabe que toda a gente nas escolas olha para estes resultados e procura perceber o que pode fazer para ficar melhor”, frisa o presidente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), Rodrigo Queiroz e Melo.
“Quando se conquista transparência, com dados sobre o que se passa, quando se conquista responsabilidade, temos de estar atentos e salientar a importância de existir esta informação sobre as escolas”, disse Rodrigo Queiroz e Melo à agência Lusa.
O ranking das escolas, defende o responsável, foi um indutor importante de melhoria dos estabelecimentos de ensino. “Toda a gente se sente pressionado pelo ‘ranking’ para fazer melhor e isso é muito positivo”, defende.
O presidente da AEEP diz ainda que os rankings, tal como são conhecidos, dão uma informação sobre o sistema, mas não são nem devem ser a única fonte, acrescentando que todos os anos tem havido um esforço para haver mais dados mas que ainda falta trabalho das autoridade públicas para ajudar as escolas onde se verifica que, ano após ano, os alunos não aprendem.