A imagem acima é a melhor de sempre do Sagitário A – tem o dobro da resolução da anterior – e permitiu aos investigadores identificar com maior precisão as propriedades da luz em torno do buraco negro.
“O centro galático está cheio de matéria em torno do buraco negro, que funciona como um vidro fosco através do qual temos de espreitar”, compara o astrofísico Eduardo Ros do Max Planck Institute for Radio Astronomy na Alemanha, em declarações à New Scientist, a propósito da nova “fotografia” do buraco negro supermassivo no centro na Via Lactéa, que resulta do trabalho de 13 telescópios.
A matéria que cai num buraco negro aquece e emite luz, mas no caso do Sagitário A, o facto de estar rodeado de plasma, que agita esta luz, tem dificultado a tarefa de o observar. Agora, uma equipa internacional de astrónomos conseguiu simular o que haverá dentro da densa nuvem de plasma, poeira e gás em torno do gigante.
A análise das imagens permitiu aos investigadores concluir, num estudo agora publicado no The Astrophysical Journal que as emissões de rádio a partir do Sagitário A vêm de uma região mais pequena do que se pensava e são duas as hipóteses em cima da mesa, uma vez que os buracos negros não emitem radiação própria detetável: ou a emissão provém de um disco de gás, o que seria uma exceção em relação a todos os outros buracos negros com emissões de rádio, ou… trata-se de um jato “apontado quase diratemente a nós”, como resume Sara Issaoun da Universidade de Radboud, na Holanda.
Os buracos negros ativos encontram-se rodeados por uma nuvem rodopiante de material atraída para o seu centro como a água a escoar. À medida que este material é engolido pelo buraco negro, este emite jatos de partículas a partir dos seus polos rotacionais, crê-se que lançadas através de linhas do campo magnético, a velocidades que se aproximam da velocidade da luz.
A confirmar-se que há um jato apontado à Terra, isso implica que o Sagitário A tenha uma orientação invulgar, o que, por sua vez, já se tinha suspeitado: como se estivesse mesmo à nossa frente. Ou como resume o astrónomo Heino Falcke, da mesma universidade: “Talvez seja mesmo verdade e estejamos a olhar para este monstro da nossa perspetiva privilegiada.”