No esforço de travar a transmissão de doenças aos humanos pelos mosquitos, têm surgido várias ideias promissoras com o mesmo objetivo, reduzir as populações de insetos, e a mesma ideia base: Combater mosquitos com… mosquitos. E seja para introduzir na natureza mosquitos esterilizados ou infetados de forma a não poderem reproduzir-se ou ser portadores de doenças, ou mesmo mosquitos geneticamente modificados, o desafio é também o mesmo: como é que se transportam milhares, ou mesmo milhões de mosquitos?
Foi a este problema logístico que de dedicou Hae-Na Chung e a sua equipa, chegando a uma “descoberta surpreendente”, como descrevem os investigadores.
A experiência para ver quantos mosquitos se poderiam enviar num processo de expedição de 24 horas, garantindo a maior taxa de sobrevivência possível, concluiu que o ideial é nada menos do que 240 mosquitos por centímetro cúbico. Se dito assim já parecem muitos, acrescente-se o exemplo dos investigadores: 1200 mosquitos… numa colher de chá. O resultado supreendeu a própria equipa, que publicou esta semana a sua investigação no Journal of Insect Science.
“Começámos as nossas experiências com tubos de 50 milímetros e não tardou a percebermos que é preciso criar muitos mosquitos para encher um tubo desses – cabem 10 mil machos. Então, mudámos para seringas de 10 milímetros e ficámos pasmados com quantos mosquitos lá conseguem caber, até 2500”, relata Immo Hansen, que fez parte da equipa.Depois de inserirem um número preciso de mosquitos em cada seringa, comprimiram-nos até à marca equivalente a 1 centímetro cúbico, como pode ver aqui no vídeo.
Embalados depois em esferovite e acondicionados com um elemento de frio, os insetos foram expedidos, durante a noite, de Las Cruces, Novo Mexico, para Davis, na Califórnia. Uma vez chegados ao destino, foram imediatamente libertados e examinados pela equipa local.
Com a densidade de 240 mosquitos por centímetro cúbico – a mais elevada que testaram – alguns insetos chegaram com as asas ligeiramente danificadas, mas esta revelou-se a ideal para reduzir a sua mortalidade.
“A alta mortalidade dos mosquitos acondicionados com menos densidade foi inesperada”, sublinha Hansen. Talvez, teorizam os investigadores, as vibrações durante o transporte, sobretudo durante o voo, tenham afetado mais os insetos que viajaram mais “à larga”.
A técnica do inseto estéril, que consiste na libertação de grandes quantidades de insetos inférteis numa dada região, foi testada com sucesso nos anos 50, no sul dos EUA, com moscas parasitárias, quando se descobriu que podem ser transportadas aos milhares, na sua fase de pupa (que se segue ao estado de larva e antecede o estado adulto). Uma vez libertadas, podem voar grandes distâncias, espalhando-se a partir do ponto inicial.
Já com os mosquitos, o caso é diferente, uma vez que são mais frágeis e um mosquito adulto não consegue voar muito longe, pelo que as suas versões modificadas têm de ser deixadas em locais precisos para garantir o efeito de controlo populacional.