A 28 de setembro de 1928, há precisamente 90 anos, o acaso e a genialidade conjugaram-se para que Alexander Fleming descobrisse a penicilina. Ao observar que nos meios de cultura crescia bolor (Penicillium), em torno do qual não se desenvolviam bactérias, Fleming chegaria à conclusão de que o bolor produzia algo que impedia o crescimento das bactérias: a penicilina, o primeiro antibiótico. Poucos anos depois, em 1942, a penicilina mostrou ser capaz de salvar a primeira vida. Tal como a invenção da roda, a descoberta da penicilina veio revolucionar a história da Humanidade.
Os antibióticos permitem que façamos cirurgias e tratamentos para o cancro que não seriam possíveis sem a sua existência, dado o elevado risco de infeções associadas a estes procedimentos. Permitem-nos ganhar a luta contra as infeções bacterianas, o que antes não era possível. Graças aos antibióticos, a esperança de vida da Humanidade aumentou de forma significativa. Mas, tal como Fleming alertara no seu discurso aquando da receção do Prémio Nobel da Medicina de 1945, a penicilina rapidamente deixou de ser eficaz para algumas bactérias que se tornaram resistentes à sua ação. Na verdade, as bactérias têm capacidades múltiplas para se defenderem da ação dos antibióticos, impedindo a sua entrada, expulsando-os ou destruindo-os, isto é, ficam resistentes aos antibióticos. Ao longo dos anos, novos antibióticos têm sido desenvolvidos. Para todos eles, as bactérias desenvolvem resistência, tornando-os ineficazes. É um processo inevitável, relacionado com a seleção natural. Quando se multiplicam (o que acontece a cada 20 minutos), as bactérias sofrem mutações e as mutantes sensíveis aos antibióticos são destruídas, ficando as resistentes. Como cada ser humano tem tantas bactérias como células humanas, sobretudo nos intestinos e na pele, não é difícil de imaginar o que acontece quando tomamos um antibiótico.
Um outro dado curioso para a questão das bactérias resistentes é o de que, ao contrário do que possamos pensar, as bactérias resistentes já existem no Planeta há cerca de 5 milhões de anos, muito antes da descoberta dos antibióticos e mesmo da Humanidade. Na verdade, os antibióticos são substâncias naturais, produzidas pelos fungos (como o Penicillium), por outras bactérias, por células vegetais ou até animais. Desde a utilização de antibióticos, o que fazemos é acelerar o processo de seleção natural, escolhendo as bactérias mais resistentes. Vivemos hoje num mundo onde as bactérias estão a ganhar a batalha contra os antibióticos e algumas delas são resistentes a todos os antibióticos. É urgente e fundamental que os antibióticos sejam bem prescritos pelos médicos e adequadamente utilizados pelos cidadãos.
Os antibióticos não devem ser utilizados para tratamento de ocnstipações ou gripes, que não são infeções bacterianas mas sim virais. Não devem também ser utilizados para tratar o que chamamos colonizações, ou seja a presença de bactérias que não causam infeção. É frequente e errado efetuar exames de urina à procura de bactérias quando não há sintomas de infeção. Se nada for feito, estima-se que em 2050 morram 10 milhões de pessoas por ano graças a infeções causadas por bactérias resistentes. Emm memória de Fleming e da descoberta da penicilina, devemos utilizar menos e melhor os antibióticos para os podermos continuar a usar e a salvar vidas. Todos somos responsáveis!