Foi com picaretas, serras e cordas que a polícia das Maldivas destruiu uma escultura marítima por atentado aos valores do Islão, religião oficial deste país do Índico.
Desde julho que a escultura, encomendado por um hotel do grupo Accor, estava exposta na água, mas, depois de muitas críticas, um tribunal disse que as formas humanas ali retratadas são anti-Islão. O governo ordenou que o trabalho fosse destruído, o que aconteceu na sexta-feira, dia 21.
A escultura semi-submersa, denominada Coralarium, foi criada pelo artista e ecologista Jason deCaires Taylor, conhecido pelo seu trabalho com figuras submersas, que lamentou profundamente o sucedido. “Foi feita para ligar os seres humanos ao ambiente e a um espaço estimulante para a vida marinha prosperar. Nada mais”, disse ao jornal The Guardian.
A escultura tem por base uma grande estrutura de aço (com pH neutro, para proteger o ecossistema marinho) com vários recortes. Nesta base foram colocadas 30 figuras humanas, tanto no cimo, como lá dentro e algumas, ainda, submersas. As figuras foram inspiradas em várias pessoas, metade delas das Maldivas, com algumas formas reinterpretadas de forma híbrida.
No entanto, a representação de figuras humanas é fortemente desencorajada pelas leis islâmicas. Depois das críticas de vários líderes religiosos e alguns intelectuais da ilha o tribunal decidiu que que a escultura era uma ameaça à “unidade islâmica, à paz e aos interesses do estado das Maldivas”.
Os nove meses de trabalho de Jason deCaires Taylor, que envolveu engenheiros navais, mergulhadores e fabricantes de aço especial, foram destruídos em pouco tempo.
Muito embora politicamente tenha demorado demais para o novo presidente das Maldivas. O anterior presidente, Abdulla Yameen, esteve debaixo de fogo por não ter tomado a decisão de remover a escultura rapidamente, o que viria a acontecer apenas uns dias antes das eleições – que perdeu.
O grupo Accor respondeu ao The Guardian em comunicado: “Embora estejamos surpreendidos pela remoção das peças de arte ecológicas, respeitamos as pessoas das Maldivas, as suas tradições e costumes. O processo de remoção foi pacífico e não houve interrupções no nosso famoso serviço.”