Um grupo de estudantes universitários de Viseu acusa a empresa 3quartos de ter falhado, ao longo do ano letivo de 2017/18, na prestação de serviços básicos como o fornecimento de luz e água, incluídos na mensalidade do aluguer dos apartamentos. Pelo menos um está neste momento sem eletricidade, situação que se arrasta desde quarta-feira da semana passada.
“O apartamento está inabitável. Tenho de dormir em casa de um familiar porque sem luz não se consegue fazer nada. Até o telemóvel tinha de carregar no café. O congelador estava cheio de comida e foi tudo para o lixo”, denuncia um dos hóspedes, que pretende reclamar à empresa a mensalidade de agosto (€180) e o valor da comida estragada, além da caução entregue quando assinou o contrato de aluguer, correspondente a uma mensalidade. “Fartei-me de telefonar por causa da falta de luz, mas ninguém me atendeu. Só depois de terem surgido críticas nas redes sociais, no fim de semana, é que me responderam por sms, para dizerem que não tinham nada a ver com o assunto”, conta, indignado com o comportamento da gerência.
O mais recente corte de eletricidade não foi caso único ao longo do último ano, segundo outro hóspede. “Não foram três, nem quatro nem cinco vezes. Um dia, um senhor da EDP tocou-nos à campainha para avisar que ia cortar a luz e tive de lhe pedir se podia esperar que a máquina da roupa acabasse de lavar”. A água, acrescenta, também esteve cortada em “mais de uma ocasião”.
Noutro apartamento, as mesmas queixas. “Só num mês estivemos quatro ou cinco vezes sem luz. Tomávamos banho às escuras, com água aquecida no fogão”, denuncia um terceiro estudante, referindo ainda falhas no fornecimento do serviço de televisão e internet.
A 3quartos aluga quartos a estudantes na zona de Viseu, com as despesas de luz, água, gás, tv e internet incluídas na mensalidade do aluguer, até determinados limites por hóspede. Durante o último fim de semana, foram publicadas várias denúncias na rede social Facebook – algumas entretanto apagadas – sobre o incumprimento da empresa no fornecimento destes serviços. Três dos envolvidos aceitaram falar à VISÃO, mas solicitaram o anonimato, por receio de represálias por parte da empresa. Outros arrendatários recusaram voltar a abordar o assunto com o argumento de estarem a ser ameaçados com processos por difamação.
Contactada a 3quartos, o gerente Vasco Duarte negou, por escrito, qualquer ameaça aos inquilinos contestatários, garantindo que a retirada das publicações aconteceu “de livre vontade” dos autores, “ainda que a 3quartos se reserve ao direito de analisar e de agir em conformidade relativamente a eventuais prejuízos causados”.
Sobre os cortes de eletricidade e água, Vasco Duarte descarta responsabilidades. O gerente explica que os contratos preveem um consumo “responsável e sustentável de eletricidade, gás e água” por parte dos inquilinos, e sempre que os limites acordados são excedidos há lugar “ao pagamento do valor remanescente”, em prazos que considera alargados. “Naturalmente que, se os inquilinos mantiverem uma postura de constante incumprimento, a empresa não poderá indefinidamente suportar tais custos”, justifica.
Os denunciantes confirmam que lhes foram solicitados, por este motivo, vários acertos de contas ao longo do ano letivo, que dizem ter pago, ainda que desconfiados dos valores em causa – num dos casos, quase €80 para um trimestre, o dobro do limite contratualmente fixado. Quem já havia alugado apartamentos da 3quartos no ano anterior estranhou estas cobranças, uma vez que no primeiro ano nunca lhe tinham exigido estes pagamentos extraordinários. A empresa defende-se com as faturas dos serviços, apresentadas aos arrendatários.
Em relação às falhas no serviço de Internet, Vasco Duarte admite “alguns constrangimentos no passado”, que explica com a migração para outra operadadora. E quanto às dificuldades de comunicação que todos os hóspedes apontam, alega que, além do telefone, a empresa disponibiliza um endereço de email, além dos “sistemas de conversação associados às redes sociais”.