Uma das mulheres que participou na experiência holandesa em que várias grávidas tomaram Viagra lembra que, na altura, antes de assinar a autorização, estava num “turbilhão de emoções”.
Lana Huf-Germain, de 38 anos, é hoje mãe de uma menina de dois anos que nasceu prematura, mas que está bem de saúde.
A experiência feita em 11 hospitais holandeses, desde 2015, a 183 mulheres grávidas resultou na morte de 11 bebés. Os investigadores pretendiam apurar se o sineldafil, vendido sob o nome de Viagra, poderia estimular o crescimento dentro do útero.
As mulheres foram informadas no passado domingo, pelo Amsterdam University Medical Centre, que liderou o ensaio clínico, de que o estudo estava terminado devido ao elevado número de mortes de bebés que provocou – entre 10 a 15 grávidas ainda estavam no processo, na semana passada, e não sabem o que pode acontecer aos seus bebés.
Lana Huf-Germain contou ao The Guardian que durante a ecografia das 20 semanas lhe disseram que a filha “estava demasiado pequena” e que deviam ir ao hospital. Lá, foram logo informados do ensaio clínico e de que este os “poderia beneficiar”. “Um médico veio ter connosco e explicou-nos o que é que faz o Viagra e tudo nos pareceu plausível. Por isso dissemos ‘sim, vamos a isso’. Depois perguntei ao meu marido: ‘Eles falaram-nos nos riscos?’”.
Huf-Germain, que foi informada que estava no grupo que tomou o placebo e não o medicamento, diz que, na altura, “estávamos num turbilhão de emoções. Nem me lembro do que assinei. Podem ter dito qualquer coisa sobre os riscos”, mas o casal queria avançar depressa com receio que a filha tivesse algum problema.
O sildenafil – vendido pela Pfizer como Viagra, mas que neste caso não foi fornecido por esta farmacêutica – dilata os vasos sanguíneos e é normalmente usado por homens com disfunção erétil.
Este ensaio foi feito depois de uma investigação com ratos, baseando-se nos resultados – a droga estimulava o fluxo do sangue na placenta, estimulando o crescimento do feto.
Das 93 grávidas que tomaram o medicamento, nasceram 70 bebés com problemas nos pulmões e 11 morreram. Outros oito morreram por outras causas.
Quanto ao grupo que tomou o placebo – 90 mulheres – três bebés nasceram com os mesmos problemas nos pulmões e nove morreram devido a outros problemas.
Pensa-se que o medicamento pode ter provocado pressão alta nos pulmões levando a que os bebés recebessem menos oxigénio.
“O meu marido vai precisar de fazer terapia depois desta notícia. Ele diz que ‘nunca mais participaremos em qualquer ensaio’. Eu estou mais do lado dos médicos. É horrível para quem ainda estava no processo até há dias…”