Muitos estudos envolvem experiências. E, por sua vez, muitas experiências precisam de voluntários. Este estudo holandês não é exceção à regra – o que é menos comum é aquilo a que o grupo de 17 participantes concordou em se submeter: ter um parasita potencialmente fatal, o esquistossoma, injetado no seu corpo – e não apenas um, mas 20 espécimes.
Os investigadores do Leiden University Medical Center, na Holanda, pretendem estudar o comportamento do parasita dentro do corpo e criar uma vacina contra a doença fatal gerada por ele, a esquistossomose.
Os parasitas serão injetados nos braços dos 17 participantes, que ficarão sob a observação da especialista em doenças infeciosas Meta Roestenberg e da sua equipa, durante 12 semanas.
Durante este tempo, várias vacinas contra a esquistossomose serão testadas nos participantes, e todas as semanas ser-lhe-ão retiradas amostras sanguíneas para controlar se os parasitas ainda estão vivos.
Foram utilizados apenas parasitas macho para o ensaio, de modo a inibi-los de se reproduzir ou de deixar ovos nos órgãos vitais. Graças a isso, segundo os investigadores, os participantes não terão qualquer sintoma visível ou invisível.
No final das 12 semanas, o medicamento antiparasitário Praziquantel irá livrar o corpo dos participantes de qualquer vestígio que reste dos parasitas – ou, pelo menos, assim esperam os investigadores.
Apesar do planeamento metodológico que inviabiliza a reprodução do parasita e dos riscos “extremamente baixos” garantidos por Roestenberg para os participantes envolvidos, vários membros da comunidade científica afirmam não haver certezas de que o Praziquantel realmente funcione como esperado.
“Eu não me voluntariava para este estudo, e se tivesse um filho ou uma filha que se quisessem voluntariar, recomendar-lhes-ia que não o fizessem”, disse, em entrevista à revista Science, Daniel Colley, um investigador especializado em esquistossomose da Universidade da Georgia, nos EUA.
Ainda assim, a experiência foi aprovada por uma comissão de ética holandesa antes de ter sido posta em prática. A investigadora mantém a sua posição relativamente aos baixos riscos da mesma.
O esquistossoma é um parasita que habita em fontes de água doce e afeta várias espécies de animais. Os humanos são infetados através do contacto direto com o parasita, que entra pela pele para a corrente sanguínea, que utiliza para chegar até aos órgãos vitais, onde deposita ovos e se reproduz.
Os sintomas da esquistossomose são criados pela reação do corpo aos ovos do parasita, e incluem dores abdominais e perdas de sangue pela urina. Em casos mais avançados ou crónicos, a doença pode causar danos no fígado, cancro da bexiga, várias lesões, infertilidade e, por vezes, levar à morte.