Um novo estudo do National Toxicology Program (NTP), no centro de investigação norte-americano National Institute of Health (NIH), sugere que a radiação de baixa-frequência dos telemóveis pode estar associada ao aparecimento de cancros.
O estudo foi financiado pelo governo norte-americano em mais de 25 milhões de dólares, aproximadamente 20 milhões de euros, e dividiu-se em duas partes.
A primeira envolveu a exposição de ratazanas a níveis elevados de radiação de radiofrequência (RFR) – a mesma emitida pelos telemóveis. Foi realizada entre 2014 e 2016. A segunda parte teve o objetivo de replicar a experiência, mas desta vez em ratos de laboratório, dada a proximidade do seu ADN ao humano.
Os telemóveis, smartphones e outros aparelhos sem fios lançam pequenas doses de radiações de baixa-frequência quando se conectam a redes e transmitem informações entre si – a RFR.
Ambos os ensaios referem que “os estudos publicados até à data não demonstraram um aumento constante de incidentes de tumores de qualquer tipo associados à exposição de RFR de telemóveis em ratazanas ou ratos”. No entanto, os cientistas acreditam que “baseado no desenho de estudos existentes é difícil concluir definitivamente que estes resultados negativos indiquem com clareza que a RFR dos telemóveis não é carcinogénica“.
Desta forma, os investigadores tentaram uma abordagem mais “agressiva”, de modo a conseguirem chegar a conclusões mais assertivas.
Ambos os ensaios expuseram os ratos a “banhos” de RFR diários durante dois anos, em períodos alternados de 10 minutos de exposição e 10 minutos de não-exposição. A sequência repetia-se durante 18 horas.
Apenas os resultados da primeira instância do estudo demonstraram o desenvolvimento de tumores associado à exposição de RFR: dois a três por cento das ratazanas desenvolveram gliomas no cérebro, e um a seis por cento das ratazanas desenvolveram schuannomas (um tipo de tumor, normalmente benigno, que se desenvolve nos nervos periféricos) nos nervos do coração.
Curiosamente, segundo os investigadores, apenas as ratazanas macho demonstraram estes problemas – e uma percentagem muito reduzida destas.
Bucher diz que este fenómeno pode estar relacionado com o facto de a ratazana macho ser maior do que a fêmea e, desta forma, absorver mais radiação.
Já no segundo ensaio realizado com ratos de laboratório não foram encontradas quaisquer associações da exposição de RFR ao desenvolvimento de cancros ou tumores.
Quanto à metodologia do estudo, John Bucher, cientista do NTP, adverte que “os níveis e duração da exposição a RFR foram muito maiores do que aquilo que as pessoas experienciam, mesmo no nível mais elevado de utilização do telemóvel, e expôs o corpo todo dos roedores”.
Logo, “estes resultados não devem ser extrapolados diretamente para o uso humano de telemóveis”, diz. “Notamos, no entanto, que os tumores vistos nestes estudos são semelhantes a tumores previamente reportados em alguns estudos de utilizadores frequentes de telemóvel“, acrescenta.
Algo que os cientistas repararam foi que, em ambos os estudos, a população de animais exposta a radiação viveu significativamente mais tempo do que o grupo não exposto: apenas 28% do grupo de controlo sobreviveu durante os dois anos de estudo, face à taxa de sobrevivência de 48-68% do grupo radiado.
Uma possível explicação para o fenómeno é que a radiação afete de alguma forma a “nefropatia crónica progressiva” de que os ratos tendem a sofrer quando envelhecem, mas os cientistas não estão certos desta hipótese.
Resumindo e concluindo, os resultados mostram uma ligação entre a formação de tipos específicos de tumores e a exposição a radiação RFR, mas apenas numa pequena percentagem de ratazanas macho expostas a níveis de radiação muito superiores àqueles que um humano é exposto quando usa o telemóvel.
As investigações serão revistas pela comunidade científica em março deste ano, de onde poderão provir mais críticas e observações pertinentes, uma vez que a dúvida permanece.