Foi em 2010 que Garry Porter, engenheiro reformado e ex-alpinista, co-fundou o projeto Mount Everest Biogas Project, que envolve vários engenheiros e arquitetos voluntários com o objetivo de resolver o problema das fezes humanas deixadas no Monte Everest.
O impacto humano ao longo do acampamento base do Everest, assim como nos campos superiores, tem-se notado cada vez mais ao longo das décadas de exploração por quem sonha atingir o cume da montanha mais alta do mundo.
Os detritos humanos despejados em Gorak Shep tem aumentado a cada ano e degradado o ambiente. Também as fontes de água potável são postas em risco: um estudo de 2012, financiado pela National Sciente Foundation e que avaliou as águas de duas fontes perto do local onde as fezes são despejadas, revelou que um deles violou os padrões de água potável definidos pela OMS.
Dados revelados no site do projeto indicam que, anualmente, são deixados quase 12 mil quilos de dejetos humanos nessa área. Há três anos, o governo nepalês impôs uma regra: os alpinistas teriam de levar consigo mais de sete quilos de lixo humano, quando saíssem da montanha. Mas o excesso de detritos continua a ser um problema.
A solução encontrada por Garry Porter foi converter as fezes humanas em algo que pudesse ser utilizado e reutilizado, como o biogás.
Como funciona?
Imagine um grande tanque cheio de bactérias que se alimentam dos resíduos sólidos orgânicos. Desse processo, resulta o metano, um gás natural renovável que pode ser capturado e transformado em eletricidade para alimentar casas de chás, por exemplo, e para carregar telemóveis e computadores portáteis. Do processo resulta, também, outro subproduto, um fertilizante líquido.
A grande questão foi a subsistência das bactérias em climas rigorosos, já que elas só se mantêm activas em ambientes entre os 20 e os 30 graus celsius. Como o acampamento base do Everest fica a mais de 5 mil metros acima do nível do mar, era importante adaptar esta tecnologia às temperaturas negativas. A equipa de voluntários adquiriu, então, um painel solar de 8,5 quilowatts. Depois de estar ligado a 48 baterias de dois volts, o painel cria energia capaz de manter o digestor aquecido durante toda a noite.
O projeto, que está ainda numa fase inicial, tem sido desenvolvido em parceria com algumas organizações nepalesas, com o objetivo de o trabalho poder ser feito pelas comunidades locais. “Eles disseram ‘Bem, a nossa pergunta agora é quando podemos começar’, porque o que os alpinistas estão a fazer é muito desrespeituoso para com a montanha”, disse Porter, em entrevista ao Motherboard.
Estes digestores anaeróbios não são novidade nenhuma para o povo nepalês, já que são construídos há muito tempo como solução sustentável de resíduos em todo o país.