Os investigadores do Institute of Cancer Research, em Londres, realizaram um estudo sobre a forma como o ADN é lido e interpretado e publicaram imagens a comprovar as suas descobertas, que podem abrir novas portas para encontrar tratamentos para o cancro.
A sigla ADN significa ácido desoxirribonucleico, que é um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos, bem como de alguns vírus. Esta molécula contém informação única de cada ser vivo e está presente em todas as células do corpo. Ou seja, o ADN é o perfil genético de cada ser vivo. O mecanismo para ler ADN e descodificá-lo para construir proteínas de acordo com as suas necessidades é comum a todos os animais e plantas.
Para descodificar o ADN e de seguida transformá-lo em processos biológicos é necessário recorrer a um ‘serviço de transcrição’, o RNA polimerase III – a molécula que interpreta a informação genética presente no ADN. A sigla RNA significa ácido ribonucleico.
Para capturar as imagens, que classificam como “incríveis” os cientistas usaram uma técnica avançada de microscopia eletrónica com o nome de crio-ME, ou seja, microscopia crio-eletrónica. Esta técnica venceu o prémio Nobel da Química em 2017 e permite que os cientistas estudem moléculas biológicas com uma nitidez sem precedentes. A microscopia crio-eletrónica foi considerada uma revolução na área da bioquímica, pois permite tirar fotos de moléculas até 20 mil vezes mais pequenas do que um cabelo humano.
Os cientistas purificaram a molécula RNA polimerase III, imergiram-na em água e de seguida congelaram-na, o que possibilitou a preservação da estrutura microscópica dos objetos de estudo e até consegues ainda capturá-los durante o processo. É utilizado um feixe de eletrões para tirar imagens de diversos ângulos, que são então reunidos para criar uma imagem 3D detalhada.
Isso permitiu aos investigadores ver pela primeira vez como os componentes do complexo RNA polimerase III e as respetivas moléculas interagem e comunicam entre si e pode ajudar a descobrir fraquezas neste processo para combater casos de cancro.
O processo de interpretação da informação genética é regularmente atacado pelo cancro visto que a molécula RNA polimerase III está envolvida no fornecimento de materiais necessários para produzir proteínas. Quando a RNA lê o código genético, esta produz proteínas-chave que permitem que as células cresçam ou criem novas células e é aqui que o cancro ataca. Uma célula cancerígena que se esteja a dividir rapidamente e sem controlo precisa de uma quantidade maior de materiais que uma célula saudável.
Agora que conseguiram analisar a forma como as moléculas interagem entre si, os cientistas esperam com estas novas informações alterar a maneira como este processo é feito e assim combater o cancro.
Alessandro Vannini, chefe da equipa de pesquisa responsável por estas descobertas, disse à BBC que “não se obtém a estrutura de uma só vez, apenas vemos os traçados individuais e demora um pouco para ver o quadro geral. É como um quadro de Van Gogh”. “É uma nova maneira de pensar e direcionar mecanismos. Se o bloquearmos completamente, as células irão morrer todas, mas se pudermos bloqueá-lo parcialmente, podemos ver se podemos parar o cancro”.
Paul Workman, diretor executivo do Institute of Cancer Research, acrescentou que ” este estudo revelou uma engrenagem fundamental no funcionamento interno das células e que é muitas vezes explorada pelo cancro. É uma descoberta extremamente importante na biologia celular, e espero que no futuro isso leve a novos tratamentos para pacientes com cancro”.