No passado fim-de-semana, durante um viagem ao Japão, o youtuber americano Logan Paul de 22 anos decidiu visitar a floresta Aokigahara perto do Monte Fugi, conhecida pelo elevado número de suicídios que ali ocorrem.
Logan Paul publicou o vídeo com cerca de 15 minutos na sua conta de Youtube. No ínicio do vídeo, o jovem começa por dizer “isto não é click bait. Este é o vlog mais real que já publiquei neste canal. Acho que isto marca definitivamente um momento na história do YouTube porque tenho a certeza que, felizmente, nunca aconteceu a ninguém. Dito isto, podem fechar a boca, porque nunca vão ver um vídeo como este novamente”. No vídeo, que entretanto foi eliminado pelo youtuber, podia ver-se o jovem a rir e a fazer piadas após a descoberta do corpo. Um dos amigos de Logan chega mesmo a sentir-se mal, ao que este responde ““Então? Nunca estiveste ao lado de um gajo morto?”. Eventualmente, Paul tenta fazer um discurso mais sério e acaba por dizer que “o suicídio não é uma piada. A depressão e os problemas mentais não são uma piada. Chegámos aqui com a intenção de nos focarmos no aspeto assombrado da floresta. Isto tornou-se demasiado real e obviamente há muitas pessoas a passar por porcarias nas suas vidas”. Mas, este discurso não chegou para evitar a onda de críticas de que foi alvo.
Logan Paul foi acusado de insensibilidade e foi altamente critícado por partilhar o vídeo, ao qual deu o nome de “Encontrámos um cadáver na floresta dos suicídios japonesa”, mesmo sabendo que uma grande percentagem dos seus utilizadores são crianças e adolescentes. Antes de ser apagado, o vídeo publicado no domingo somava já milhões de visualizações.
Depois de ser alvo de várias críticas, Logan Paul utilizou a rede social Twitter para fazer um pedido de desculpas onde alegou que não publicou o vídeo para ter visualizações mas sim para alertar para este flagelo.
“Peço desculpa. Não o fiz para conseguir visualizações. Eu tenho visualizações. Fi-lo porque pensei que poderia criar uma onda positiva na internet, não causar um dilúvio de negativismo”, diz Logan e acrescenta ainda que “lembro-me muitas vezes do alcance que verdadeiramente tenho e com um grande poder vem uma grande responsabilidade. Pela primeira vez na minha vida lamento dizer que lidei com esse poder de forma errada. Não voltará a acontecer”.
Depois do pedido de desculpas no Twitter, Logan Paul publicou um vídeo na sua conta de Youtube onde admite o erro e pede desculpa à vítima e à família mas também a quem viu o vídeo e a quem sofre com doenças mentais e suicídio.
Na quinta-feira, o jovem anunciou que vai afastar-se do Youtube por algum tempo para refletir.
O bosque Aokigahara localizado a 100km de Tóquio tem 38 km² e várias rochas e grutas de gelo que o tornam um dos pontos turísticos mais populares da região. Pela densidade das árvores e ausência de vida selvagem, a floresta é conhecida por ser estranhamente silenciosa, o que a tornou um local comum de suicídios. É também conhecida como Mar de Árvores, Floresta Maldita, Floresta Negra e Floresta dos Suicídios. Este bosque é o 2° local do mundo onde se cometem mais suicídios, apenas ultrapssado pela Ponte Golden Gate, em São Francisco, no estado da Califórnia, EUA.
Existem várias histórias relacionadas com este bosque, que ajudam a construir a sua fama de “assombrado”. Uma delas conta que o primeiro suicídio foi o de um monge budista que entrou na foresta para se purificar e acabou por morrer à fome, tornando este ato num ritual seguido por outros budistas.
Há também quem acredite que o local tenha sido usado anteriormente para o antigo costume ubasute, uma tradição japonesa muito praticada durante o século XIX em épocas de escassez de alimentos e de seca prolongada, que consistia em levar idosos e doentes para uma floresta ou para o alto de uma montanha, deixando-os lá até que morressem de fome ou de frio. Esta lenda levou os populares a acreditar que o bosque seja habitado pelos fantasmas destas pessoas.
Embora existam estas e outras histórias antigas sobre a floresta, esta ganhou maior popularidade depois do escritor Seicho Matsumoto ter publicado em 1960 o livro “Kuroi Jukai” (Mar negro de árvores) que conta a história de um casal que acaba por se suicidar na floresta. O bosque acabou por despertar a atenção de Hollywood o que deu origem a dois filmes baseados em Aokigahar. O primeiro foi lançado em 2015 por Gus Van Sant, chama-se “O mar de árvores” e conta com Matthew McConaughey. Este filme mostra a história de um americano e um japonês que vão para Aokigahar com o objetivo de cometer suicídio mas acabam iniciar uma jornada de reflexão e sobrevivência na floresta. O segundo filme é de terror e chama-se “Floresta Maldita” e conta a história de uma jovem americana que vai à floresta à procura da irmã gémea que desapareceu misteriosamente e acaba por ser confrontada pelas almas dos mortos.
Na entrada da floresta existe uma placa com uma mensagem de apoio às pessoas que ali se possam deslocar para por fim à própria vida, “A sua vida é um presente precioso dos seus pais. Pense neles e no resto da sua família. Não precisa de sofrer sozinho”. Juntamente com esta mensagem está o número de telefone de uma linha de apoio e dentro da floresta estão colocados telefones também ligados à mesma linha. As autoridades japonesas, além de terem câmaras de segurança, também patrulham o local com a ajuda de voluntários na tentativa de identificar potenciais suicidas.
Para não incentivar ao suicídio, o número de mortes no local não é divulgado, mas segundo dados da Organização Mundial de Saúde referentes a 2015, o Japão tem uma das taxas de suicídio mais altas do mundo e nesse mesmo ano aconteceram 19,7 suicídios por cada 100 mil habitantes.