É assim uma espécie de nova moda de vestir o que pensamos – e os slogans estampados no tecido podem ser o que quisermos: divertidos, irreverentes, sérios, amorosos, feministas, ecológicos… O limite, esse, claro, é a imaginação. Neste universo tão polarizado, tantas vezes com os nervos à flor da pele, e em que tudo se anuncia ao mundo, tornou-se também tendência contar o nosso estado no nosso look, como uma extensão das redes sociais. Ao reproduzirem-no, depois, para o planeta todo ver, tudo é amplificado ainda mais.
Foi no início do ano que despertámos para esta ideia de um ativismo que começava a tomar conta dos palcos que ditam o que está in e o que está out. Na Semana de Moda de Nova Iorque, a irreverente Public School, ainda sob o choque da eleição de Donald Trump para a presidência americana, optou por um toque de ironia e fez desfilar bonés de basebol com a inscrição “Make America New York”. Aludia assim ao slogan do então recém-eleito, sendo que a referência à cidade era uma forma de lembrar que aquele país é feito de pessoas de todas as culturas e religiões. Chow, um dos criadores da marca, sustentou mesmo que “a coleção começou com uma conversa sobre fronteiras”. O meio tornou-se, então, a mensagem – tal e qual aprendemos desde que foi alardeada pelo sociólogo canadiano Marshal McLuhan, em 1964, que a via como uma metáfora da sociedade contemporânea: o meio em que a mensagem é difundida é tão ou mais importante do que a mensagem.
A própria história da t-shirt ajudou a que se tenha posto neste papel. Durante a II Guerra Mundial, foi pintada de verde para serem mais facilmente camufláveis – e, logo na eleição seguinte, o candidato à presidência dos EUA, E. Dewey, aparecia a apregoar a frase “Dew it with Dewey” na camisola, um dos primeiros casos de propaganda política da história. Mas foi nos anos 1960 que o ar do tempo se fez sentir nos escritos das t-shirts, que passaram a ser usadas por diversos grupos políticos como forma de comunicação. Na década seguinte, aliam-se ainda à publicidade e explode o mercado das t-shirts de bandas. Daí até se levarem palavras de ordem ao peito foi um passo.
Um primeiro sinal deste novo valor das t-shirts soara já bem alto no final do ano passado, com frases a proliferar nos feeds da moda, depois de Maria Grazia Chiuri, na estreia da direção criativa da Dior, ter levado para a passerelle uma t-shirt branca a dizer apenas “We should all be feminists”. Pouco depois, Prabal Gurung, designer de Singapura, acrescentou-lhe statements como “We’ll not be silenced” ( Não seremos silenciados) ou “The future is female” ( O futuro é feminino). Tudo mensagens poderosas, inspiradoras, daquelas que ficam a matar no Instagram – e muitas até recuperadas de décadas anteriores. Afinal, conta o New York Times, a primeira vez que “The future is female” surgiu estampada numa t-shirt foi já em 1975, uma peça de roupa imortalizada por Liza Coan, a tirar uma fotografia à sua namorada, Alex Dobkin, que a trazia vestida. Daí a slogan feminista foi um passo. Nos anos 1980, a estilista inglesa Katharine Hamnet usou as mesmas t-shirts para outros temas, pertinentes à época (“Use preservativo”, ou “Nuclear, não obrigado!”) Os yuppies dos anos 1990, essa geração superconsumista, preferiu ostentar logótipos de grandes marcas. Até que, agora, voltaram os manifestos a favor dos direitos humanos, com t-shirts que falam por nós. Afinal, a moda é uma forma de expressão por excelência, certo?