Queimar gorduras, fazer crescer músculos e prevenir doenças cardíacas – tudo isto à distância não de longas horas no ginásio mas de um comprimido. A proposta é de Ronald Evans, professor de biologia e investigador do Salk Institute for Biological Studies, que está há mais de uma década a desenvolver e testar uma substância capaz de oferecer todos os benefícios do exercício físico, sem ser necessário qualquer esforço.
A substância em causa chama-se GW501516 – ou Endurobol, como é conhecida no mercado negro – e foi criada na década de 1990 pela farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK).
Em 2007, Evans desenvolveu um estudo que comprovou que a substância aumenta a performance atlética e a capacidade de queimar gorduras em ratos de laboratório, mesmo com níveis mínimos de exercício.
Contudo, reporta a Bloomberg, Evans advertiu que os comprimidos não estavam prontos para consumo humano, devido ao potencial perigo que representavam para a saúde – que não tinha sido ainda testado – apesar de a droga ter sido introduzida desde logo no mercado negro.
“Para muitos atletas, ganhar é mais importante do que a sua saúde ou do que os riscos que correm”, diz Evans, que não se admira com o facto de o medicamento ter sido desviado ilegalmente para o mercado negro assim que foi criado.
O estudo foi publicado um ano depois, em 2008. Nesta altura, a GSK tinha já suspendido o desenvolvimento da substância quando, na última fase de testes em animais, se verificou que vários tumores apareceram nos ratos que tomaram Endurobol.
Desde então, Evans tem vindo a desenvolver várias versões da GW501516, até encontrar uma fórmula que permita contrariar o aparecimento de cancros.
“Um medicamento que promove os benefícios do exercício pode ter aplicações extensas”, diz Evans, explicando a sua persistência. Para além de evitar a obesidade, pode reduzir os riscos de diabetes, de infeções e até de cancro em pessoas mais sedentárias – tal como o exercício faria.
A sua fórmula mais recente atua sobre o PPARD, uma proteína recetora nuclear que existe naturalmente no corpo e que afeta, entre outras coisas, a regulação do metabolismo. O PPARD aumenta a quantidade de energia gasta pelas células quando se realiza exercício, de modo a queimarem mais gordura, e é encontrado principalmente no tecido adiposo e no cérebro.
Segundo um novo estudo, a mais recente versão de GW501516 de Evans estimula o PPARD existente no corpo, de modo a obrigar a uma maior queima de gordura, mas sem ativar qualquer indicador cancerígeno. O comprimido é menos potente e, em teoria, será menos tóxico que o anterior.
Os investigadores do Salk Institute for Biological Studies descobriram, através de testes em ratos de laboratório, que a nova substancia não só estimulava a queima de gordura como também reduzia o risco de hipoglicémias nos ratos – mesmo que estes fossem completamente sedentários.
Os resultados demonstraram um aumento na energia e na quantidade de gorduras queimadas em 70% dos ratos, mostrando ser possível estimular a queima de gordura sem necessidade de exercício.
Para medir os níveis de energia, os ratos foram postos a correr até chegarem ao seu limite cardíaco: uma vez antes e outra vez depois da toma da substância. Os ratos correram uma média de 160 minutos seguidos antes da toma; e 270 minutos seguidos depois da toma.
Quando confrontado com o que correu mal da primeira vez, Evans reconhece que os comprimidos que criou eram “demasiado potentes”, sendo que “a forma fisiológica natural de como os medicamentos funcionam deve ser semelhante ao que já acontece no corpo. Se não manipularmos o sistema de forma exatamente certa, as coisas ficam confusas”, diz.
Existe a possibilidade de a nova fórmula de Evans começar a ser testada em humanos, visto os riscos cancerígenos terem sido eliminados, e do produto entrar posteriormente para o mercado, juntamente com outros produtos concorrentes também em desenvolvimento.