Patrícia Mamona é atleta do triplo salto, prata no Europeu de Atletismo deste ano, sexta colocada nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e, igualmente importante, estudante de engenharia biomédica . Ela é um dos 33 atletas olímpicos e paralímpicos beneficiados com as Bolsas de Educação do Comité Olímpico de Portugal, o Comité Paralímpico e os Jogos Santa Casa para atletas que conciliam o desporto com os estudos universitários.
“Para nós é um incentivo. É gratificante saber que estão do nosso lado e nos querem apoiar. Para alguns alunos se calhar as bolsas não são o suficiente, mas é um grande descanso, é uma grande ajuda. Para nós é gratificante saber que estão do nosso lado para conseguirmos passar essas duas partes de nossas vidas da melhor maneira”, explica Mamona.
Desde a origem do projeto, em 2013, já foram distribuídas 87 bolsas. São dedicadas sobretudo a atletas com grande potencial, que já tenham participado dos Jogos Olímpicos, estejam integrados no Projeto Tóquio 2020 ou no Projeto de Esperanças Olímpicas. Na edição deste ano, 27 atletas olímpicos e seis paralímpicos foram beneficiados.
O valor de 3 mil euros pode parecer pequeno, sobretudo se se pensar que um atleta como Usain Bolt faturou 30,6 milhões de euros em 2016, ao somar-se prémios e patrocínios, mas é visto como um primeiro passo para o desenvolvimento do desporto português.
“Temos aqui atletas de alto nível que não tem patrocínios, mas estão todos os dias a sacrificar-se. Passam horas e horas a treinar. Acho que é um grande sacrifício que se as pessoas não o vivem não conseguem realmente perceber. E quando há uma competição realmente importante, toda gente quer medalhas, mas o trabalho tem que ser feito antes”, afirma Mamona.
A própria atleta do triplo salto sabe bem a importância do apoio para conciliar estudo e profissão. Antes do curso de engenharia biomédica, estudou medicina na Universidade Clemson, nos EUA, onde se especializou na modalidade enquanto competia no circuito universitário americano.
A bolsa é um incentivo importante, mas apenas um primeiro passo no desenvolvimento dos desportos olímpicos em Portugal. Rui Bragança, que participou da disputa do taekwondo no Rio de Janeiro ano passado, acha que é necessário investir nos atletas mesmos antes de eles trazerem um retorno desportivo para o país. “Investir. Não só na universidade, mas até começar mais cedo. Há muitos atletas que aos 16 anos tem que ir para outro sítio e seria quase como dizer aos pais que estamos a apoiar. Nós acreditamos, vamos investir nesses atletas e não se preocupe por não ter rendimento”, diz Bragança.
O Plano B
Ao estarem numa profissão que dá apenas de 15 a 20 anos de carreira, com sorte, é essencial uma alternativa para a fase seguinte da vida.
“Independente de receber a bolsa ou não, nós sabemos que é importante ter um plano B. É importante termos uma carreira académica. As nossas carreiras pós-desportivas vão terminar, nós não seremos atletas de alta competição para sempre. Os nossos corpos não aguentam”, sublinha Mamona.
No caso da atleta, o foco agora é preparar-se para chegar bem aos Jogos de Tóquio em 2020 e até concluir a licenciatura em engenharia biomédica – a atleta faz apenas três cadeiras por ano, ao invés das cinco tradicionais. Depois disso, não está descartada a hipótese de continuar a contribuir para o desporto português, mas desta vez fora das pistas.
“Já fiz alguns trabalhos na universidade sobre próteses de que gostei muito. Foi algo que sentia que dominava bem. Dominava o corpo, sentia o corpo, e se calhar associar-me ao projeto Paralímpico, ao Comité Paralímpico. Mas é algo que neste momento pode vir a mudar”, conclui Mamona.